A liturgia hoje comemora a festa dos Santos Anjos da Guarda. A Igreja, em sua piedade, sempre acreditou na existência não só de anjos em geral, dos quais nos falam repetidamente as páginas da Sagrada Escritura, mas também de anjos destinados a guardar e proteger os homens na caminhada terrena.
A palavra anjo significa “enviado”, mensageiro, divino. Às vezes são chamados na Bíblia filhos de Deus porque formam a corte celeste.
Já no Antigo Testamento os anjos aparecem, repetidas vezes, como manifestações ou intervenções de Deus na história do povo eleito. São os portadores de mensagens divinas e participam de perto da história do povo de Israel, fazendo com que este seja fiel à missão que Deus lhe confia.
No Novo Testamento o papel dos anjos é mais claro. Os anjos anunciam o nascimento de Cristo e acompanham a vida toda do Divino Mestre. Aparecem por ocasião de sua paixão e morte e são testemunhas de sua Ressurreição. Igualmente nos Atos dos Apóstolos é bem evidente a intervenção dos anjos que vai marcando os primeiros passos da Igreja. Eles tomam parte ativa nos progressos do Evangelho, manifestando assim que a comunidade eclesial se liga intimamente ao ministério de Cristo.
O apóstolo São Paulo dá testemunho disso quando escreve: “Não são todos os anjos espíritos a serviço de Deus, que lhes confia missões para o bem daqueles que devem herdar a salvação?” (Hb 1,14).
Afinal, a Bíblia está repleta de notícias sobre os anjos. Mas quais as principais referências relativas ao anjo da guarda? Tem fundamento a crença da Igreja que cada homem tem um anjo protetor? O Salmo 90, que se refere ao futuro Messias, fala explicitamente que Deus mandou seus anjos guardar o Messias: “Em todos os seus passos, eles o sustentarão em suas mãos para que não tropece em alguma pedra”.
Ora, Cristo é o primogênito de todas as criaturas, nosso irmão e modelo; se, portanto, sua humanidade, apesar de unida com a Divindade, era continuamente protegida por anjos, muito mais devemos ser nós, seus membros, tão frágeis.
Jesus, certa vez, falando das crianças que propunha como modelos de inocência, de simplicidade e docilidade, teve palavras fortes contra os possíveis escandalizadores das crianças e acrescentou: “Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos! Porque eu vos digo que seus anjos no céu contemplam sem cessar a face de meu Pai que está no céu” (Mt 18,10).
Temos outro detalhe importante nos Atos dos Apóstolos: quando São Pedro, libertado da cadeia, por intervenção de um anjo, se dirigia à noite à casa do amigo Marcos, bateu à porta, mas de dentro não se atreviam a abrir, embora reconhecendo que fosse sua voz, pois diziam: “é seu anjo”. Esta frase traduz uma convicção dos primeiros cristãos relativa à existência de um anjo que acompanha cada um de nós. Esta, de fato, é a crença universal e pacífica da Igreja em todos os tempos.
São Bernardo, num sermão sobre o anjo da guarda, faz este comentário: “‘Deus ordenou a seus anjos que te guardem em todos os teus caminhos’. Esta afirmação da Sagrada Escritura deve despertar em ti uma grande reverência, aumentar tua gratidão, abrir teu coração à confiança. Reverência pela presença, gratidão pela benevolência, confiança pela proteção. O anjo está junto de ti para te proteger. Sejamos profundamente gratos aos anjos nossos protetores, amemo-los com ternura como futuros co-herdeiros nossos e, enquanto esperamos, respeitemo-los como nossos intendentes e tutores dados pelo Pai como nossos guias”.
Trecho da obra: "O santo do dia", de Dom Servílio Conti.
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