Poucas figuras históricas de santos tem exercido tanta influência sobre os destinos da humanidade como São Bento, patriarca do monaquismo ocidental.
Nasceu em Núrcia, perto de Roma, em 480. Seus pais, de nobre linhagem, o enviaram à Cidade Eterna, para que se formasse nas ciências liberais, visando uma boa colocação na magistratura. O Império Romano estava se esfacelando pela pressão dos invasores bárbaros. O último imperador, Rômulo Augústulo, entregou o comando da Itália a Odoacro, rei dos hérulos, em 476.Oambiente romano era leviano e frívolo demais para o jovem estudante Bento que, aspirando a ideais superiores, acabou se desgostando. Retirou- se, então, para as montanhas da Úmbria e, imitando o exemplo de outros eremitas, escolheu uma gruta quase inacessível num penhasco chamado Subiaco, para se entregar à oração, à meditação e ascese cristã. Outro eremita, de vez em quando, lhe fazia descer num cesto um pouco de pão para completar a pobre alimentação.
Não existiam ainda, na Itália, instituições monásticas, ao contrário do Oriente, onde já havia uma tradição a respeito. Os mosteiros fundados por Santo Honorato e São Cassiano um século antes na França eram pouco conhecidos na Itália. Bento sentiu-se inspirado em fazer a sua experiência eremítica e monástica. Ficou três anos na solidão daquela gruta; sua experiência, aos poucos, contagiou outros jovens desejosos de cultivar os valores espirituais.
Entre os primeiros discípulos, contam-se São Mauro e São Plácido. A experiência de São Bento foi amadurecendo com o estudo das Regras monásticas de São Pacômio e de São Basílio, procurando assimilar o que havia de melhor e adaptando-as ao espírito romano. Aos 40 anos, não encontrando mais condições de sossego, por interferências estranhas, Bento deixa Subiaco, ruma para o sul de Roma, e constrói o famoso Mosteiro de Monte Cassino, considerado o centro propulsor da vida beneditina em todos os tempos.
No cume do monte, este mosteiro devia realizar o ideal da vida consagrada: não em cenóbios em que o monge vive sozinho, exposto a perigos e ilusões de fixismo religioso, mas em vida comunitária sob a direção de um mestre espiritual, o abade (abbas = pai) num mosteiro auto-suficiente. A expansão que alcançou esta iniciativa monástica foi impressionante. Duzentos anos mais tarde, a Regra beneditina vigorava em toda a Europa eliminando praticamente todas as demais formas de vida consagrada.
Este sucesso não foi casual, mas inerente ao equilíbrio e sensatez da Regra. Pois o fim da Regra de São Bento era formar cristãos perfeitos, seguindo os ensinamentos de Jesus Cristo, mediante a prática dos mandamentos e conselhos evangélicos. Esta perfeição, pensava o santo, era mais fácil ser atingida na vida comunitária do que na solidão. Neste sentido, a Regra de São Bento marca um claro progresso em relação à Regra individual, eremítica ou cenobítica.
Outro precioso fator era o equilíbrio e a moderação. A Regra devia ser possível a todos e adaptável à capacidade de cada um, de modo que os fortes possam desejar mais e os fracos não se sintam desencorajados. Nela há uma dosagem equilibrada entre trabalho manual e o tempo de repouso, de oração e estudo. Ora et labora, “oração e trabalho”, era seu lema: oração transformada em trabalho e trabalho em oração, pela fé e obediência. O convívio fraterno completa o equilíbrio psicológico.
Os mosteiros beneditinos se tornaram na Idade Média centros de civilização integral, faróis de evangelização e ciência, escolas de agricultura. Deram à Igreja inúmeros homens de grande ciência e santidade. Das fileiras beneditinas saíram 23 papas, cinco mil bispos e os santos canonizados são cerca de três mil.
A poucos quilômetros de Monte Cassino, Santa Escolástica, irmã de São Bento, adotou a Regra para as mulheres, dando origem às monjas beneditinas. São Bento faleceu em Monte Cassino em 547, aos 21 de março, com 67 anos. Sua figura histórica agigantou-se cada vez mais, encontrando larga ressonância na literatura, na arte e, sobretudo, na vida religiosa consagrada. A Igreja o reconhece como padroeiro da Europa. Antiga tradição beneditina colocou sua festa aos 11 de julho com o nome de “Patrocínio”.
Trecho da obra: O Santo do dia
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