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Redação

A liturgia e a crise da fé

A ação litúrgica da Igreja, apesar da reforma conciliar que a revisou e reestruturou profundamente, hoje, num raio não vasto, mas significativo, parece penetrada por uma íntima crise. Se uma parte das dificuldades nasceu e permanece por uma certa menor coerência e oportunidade de atualização, especialmente no sentido de adaptação, raízes muito mais profundas e motivos muito mais graves concorrem para criar hoje o “aborrecimento litúrgico”. Ou, ao menos, poríamos interrogações sobre estas causas: este aborrecimento não proviria de algumas incertezas no plano da fé? De uma incapacidade de aceitar a presença e a obra de Cristo ressuscitado mediante a celebração? De uma opacidade encontrada no “sacramento” porque faltou sua percepção?



Obviamente: quando, se não se duvidar, todavia for posta em segundo plano, como se fosse um incômodo, a divindade de Cristo para pôr à luz a perfeição humana, o ato sagrado perde seu conteúdo especificamente cristão: que é de ser, no sinal eficaz, a obra da salvação do Senhor com o envio do Espírito Santo.


Liturgia e “morte de Deus”


Assim uma mentalidade “da morte de Deus”: bloqueia e, por fim, destrói o movimento ascensional – para usar uma linguagem figurada, mas válida depois de uma crítica que a resgate da equivocidade – que anima o movimento da liturgia como resposta ao movimento descensional, que tem a fonte em Deus, no seu amor originário. Quanto ao mais: o término do método da assim chamada “morte de Deus” já chegou à negação que, talvez sem que se o quisesse, substituiu-lhe a humanidade e a incapacidade de uma admissão e de uma fé no Deus trinitário, transcendente e íntimo, criador e salvador na “história” do Filho de Deus. A indisponibilidade litúrgica não refletiria a dúvida ou a insegurança no absoluto do amor, que, para Cristo, representava o sentido total de sua vida e de seu evangelho e o próprio fundamento de sua Páscoa?


É fácil ver a que se reduzem, a partir dessas premissas, a própria Igreja e seu recolhimento litúrgico: a uma expressão humana, não a um sacramento de Cristo. O louvor, a “contemplação” (termo até carregado de ambiguidade, mas também rico de história válida), aparecem como ociosidades diante da urgência da ação.


Sem dúvida, o culto da Nova Aliança está no Espírito, princípio das obras. O ato litúrgico deve abrir-se e envolver a vida toda e suas opções. Não é um sentido litúrgico enfraquecido, mas, ao contrário, a sensação viva de sua realidade e de seu cargo que dará o impulso ao amadurecimento do amor e à concretude da fraternidade. Antes, a própria assembleia já deve ser fruto da caridade da Igreja: a caridade para Deus, em Cristo, de quem a assembleia dos fiéis surge.

 


O ensaio reúne um conjunto de artigos que surgiram em diversos momentos e em diferentes contingências. A sua leitura revela a evolução ocorrida no autor ao longo de um período de cerca de quinze anos. Estava convencido de que a questão litúrgica se resolveria felizmente com o advento de novos ritos, teologicamente mais ricos e liturgicamente mais verdadeiros. Permanece a convicção da importância da relação entre liturgia e ciências humanas, ou, como dizem, entre ritos litúrgicos e antropologia (linguagem, sinais etc.).


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