São Francisco de Sales, que em sua atraente personalidade nos apresenta o mais fiel retrato da caridade cristã, nasceu aos 21 de agosto de 1567, oriundo de nobre família, no Castelo de Sales, na Saboia, hoje França. Até aos 17 anos o jovem Francisco passou a feliz adolescência sob os cuidados de seus pais, Francisco de Sales e Francisca de Sionas. Só então é que foi cursar as aulas do colégio de Annecy.
Dotado de inteligência viva, sentimento profundo e de grande força de vontade, entregou-se desde logo a estudos sérios, que se tornaram a ocupação constante de toda a sua vida. Em 1578 dirigiu-se a Paris, a fim de estudar retórica e filosofia, sob a direção dos padres da Companhia de Jesus, e em 1584 foi terminar os estudos na Universidade de Pádua, doutorando-se em teologia e direito.
Cultivando Francisco com tanto esmero e brilhantismo o espírito, não se descuidava, entretanto, de ornar a alma das mais belas virtudes. Mesmo no meio das múltiplas ciladas que lhe armara a sua estadia em Paris e em Pádua, o seu coração permaneceu puro e intacto, ligando-se até por um voto perpétuo de castidade, levado do grande amor de Deus que o inflamava.
Ao regressar ao lar paterno, esperavam seus pais que contraísse núpcias e encetasse uma carreira de honrarias e dignidades no mundo. Francisco, porém, já tinha decidido dedicar-se ao estado eclesiástico e viver unicamente para Deus, o único objeto de seu amor. Inquebrantável neste propósito, apesar de todas as contradições do pai e parentes, dominou todas as dificuldades, e aos 18 de dezembro de 1593 recebeu o sacerdócio das mãos do bispo de Genebra, Dom Cláudio Granier.
Entre os muitos trabalhos que assumiu em sua atividade de padre, merecem especial menção: a reconciliação dos habitantes de Chablas com a Igreja e a sua viagem a Paris, onde pregou os sermões quaresmais.
Falecendo o Bispo Dom Granier, todos os olhos se volveram para Francisco, como o seu mais digno sucessor; e o papa, que não ignorava as heroicas virtudes do zeloso sacerdote, não duvidou um instante em dar o consentimento.
Em 1602, depois de um retiro espiritual de 20 dias, Francisco foi sagrado bispo de Genebra, diocese essa que se tornou até à sua morte a arena de muitas lutas e trabalhos em prol das ovelhas do rebanho de Cristo.
À custa de muita abnegação tornava-se tudo para todos, a fim de ganhar a todos para Jesus Cristo. Uma caridade santa e sempre igual, que se manifestava principalmente para com os clérigos subalternos e para com os pobres e desamparados, uma humildade e uma simplicidade de coração inexcedíveis, uma mansidão e paciência inalteráveis em todas as vicissitudes da vida – eis aí os seus traços mais característicos. A Congregação das Visitandinas, fundada por ele juntamente com Santa Francisca de Chantal, sua filha espiritual, é um monumento perene de seu espírito belíssimo e de seu coração todo terno e compassivo.
A sua vida, tão cheia de trabalhos, foi relativamente curta. Aos 55 anos de idade já entregava a alma nas mãos do Criador, de seu Deus, único objeto de seu amor, aos 28
de dezembro de 1622. Canonizado em 1665, pelo Papa Alexandre VII, e Pio IX, em 1877, acedendo ao pedido de muitos bispos, elevou- o à dignidade de Doutor da Igreja. Em 1923 foi declarado por Pio XI Padroeiro da Boa Imprensa e dos jornalistas católicos.
Obras – No meio de suas múltiplas e importantíssimas ocupações, São Francisco de Sales achou, entretanto, tempo bastante para uma grande e preciosíssima atividade literária, exarando excelentes obras de ascética cristã, que primam principalmente pela suavidade, solidez, simplicidade e uma sublime elevação de espírito. Eis aqui as principais:
1) Filoteia, ou Introdução à vida devota.
2) Teotimo ou Tratado do Amor de Deus.
3) Controvérsias.
4) Sermões.
5) Instruções às Irmãs da Visitação.
6) Cartas (cerca de 2.000).
Para a apreciação dessas obras, limitamo-nos aqui a transcrever alguns textos de
insignes autores que não acham palavras para encomiá-las condignamente:
“Os escritos de São Francisco de Sales – diz Fénelon – abundam de graça e de experiência”.
“Nenhum outro santo – escreve o Padre Huguet – contribuiu tanto como São Francisco
de Sales, com seus escritos imortais, para fazer amar e praticar a piedade em todas as classes da sociedade”.
“Ninguém sabe como ele – acrescenta o Padre Alet (no livro Divinas oportunidades do doutoramento de São Francisco de Sales) – erguer uma alma prostrada, inerte, e animá-la, fortalecê-la, conduzi-la suavemente pelos caminhos fáceis da salvação e, em seguida, da perfeição. Sem esforço encontra o caminho do coração, descobre-lhe os horizontes eternos e faz resplandecer diante dele a beleza divina”.
“São Bernardo – continua o mesmo autor – é o amor que transborda [...] São Boaventura é o seráfico abrasado nas chamas da caridade, espalhando-as com profusão comunicativa [...] Santo Afonso é a abelha infatigável, que durante sessenta anos recolhe sobre todas as flores da tradição cristã o suco dos seus piedosos opúsculos [...] São Francisco de Sales tem muito deste amor ardente, muitos destes arrebatamentos seráficos, muito dessa atividade industriosa; mas nos sobreleva principalmente pela beleza dos conceitos, pela regularidade dos planos, pela vastidão da doutrina e mais ainda pela admirável riqueza das observações, pelo caráter eminentemente prático dos ensinamentos, pelo encanto inimitável do estilo, que compensa todas as graças duma cândida simplicidade por todas as seduções da poesia e da eloquência”.
“Nos escritos de São Francisco de Sales – são palavras do Padre Desjardin – admiramos a maravilhosa expressão da alma santa que se compraz nas belezas da natureza pelo atrativo que o impele para as belezas do céu; para ele toda criatura é um prisma, onde se refrange em mil cores o raio único da infinita caridade”.
A essas apreciações e louvores poderíamos acrescentar inúmeros outros testemunhos de estima e veneração, quais foram os que nos legaram Fénelon, Bossuet, o Cardeal Duperron, Olier, o célebre historiador M. Sayons, o Papa Alexandre VII, Mons. de Ségur. Mas para que citá-los? Abra-se este livro da Introdução à vida devota, folheie-se o Tratado do Amor de Deus, tomem-se à mão as suas Cartas. Outro testemunho mais eloquente do alto valor dos escritos de São Francisco de Sales não existe do que essas mesmas páginas, tão cheias de salutares ensinamentos e de uma celeste unção.
Sobre o livro:
Dirijo minhas palavras a Filoteia, porque Filoteia significa uma alma que ama a Deus, e é para essas almas que escrevo.
Toda a obra se divide em cinco partes: na primeira esforço-me, por meio de alguns avisos e exercícios, para converter o simples desejo de Filoteia numa resolução decidida, tomada depois da confissão geral, por uma protestação firme e seguida da sagrada comunhão. Esta comunhão, em que ela se entrega inteiramente ao Divino Salvador, enquanto o Salvador se dá a ela, fá-la entrar auspiciosamente no amor divino.
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