Católico cristão participante
O Brasil é considerado o maior país católico do mundo. É certamente católico porque é constituído na maioria de batizados. Outra questão, porém, é se os brasileiros também são realmente cristãos. Certamente o são, porque batizados. Mas, será que isso basta?
O censo demográfico de 2010 constatou o seguinte quanto à situação da religião católica no Brasil em relação a outras crenças:
Hoje, aproximadamente 67 milhões de brasileiros (36%) pertencem a crenças religiosas ou a movimentos religiosos ou sem religião, diferentes das da Igreja Católica: evangélicos, religiões orientais, espíritas, umbanda, candomblé, judeus, islamitas e os sem religião. Isso do total de 190.755.799 habitantes. (Hoje o número de habitantes já teria ultrapassado os 200 milhões conforme o IBGE [agosto de 2013]; usamos, porém, os dados do censo de 2010.)
A grande maioria dos 64,6%, o que significa 123.280.172 se declarou católica. Acontece, porém, que, desses, 59,6% são caracterizados como católicos ocasionais, o que significa em torno de 117 milhões. São batizados e praticam sua fé e a sua religião em algumas ocasiões da vida e do ano. São as quatro grandes ocasiões do ciclo da vida, como o nascimento, através do batizado dos filhos, a primeira Comunhão que, na maioria dos casos é também a última, o casamento e a morte com os ritos funerais na esperança da salvação eterna. São os sacramentos do ciclo da vida. Lembramos também a Sexta-feira Santa com a procissão do Senhor Morto, a Festa do Padroeiro, uma romaria a algum santuário; quem sabe, o Natal, e, quando acontece, a visita do papa ou a visita de alguma “imagem peregrina” de Nossa Senhora ou ainda de alguma relíquia de santo de devoção.
Os restantes 5%, o que significa em torno de 6,5 milhões, seriam os católicos participantes. Aqui abandona-se a expressão católico praticante, pois os 59,6% de católicos de prática ocasional, a seu modo, também são praticantes. Procuram viver sua fé católica, sobretudo, no nível dos sacramentais, como as bênçãos, as festas dos padroeiros, as procissões e as peregrinações e outras formas de expressão de sua fé cristã e católica.
São católicos, mas será que são realmente cristãos? No sentido amplo sim, porque são batizados, mas, no sentido pleno, parece que não. Não por culpa própria, mas por condicionamentos históricos, os católicos tradicionais brasileiros são muito religiosos, mas pouco cristãos e menos ainda eclesiais. Quando, por exemplo, uma pessoa se encontra ocasionalmente com o padre e vem logo declarando ser “muito católica”, pode-se desconfiar que se trate de um católico de prática ocasional: muito “católica”, mas pouco “cristã”. E o padre já pode contar com um pedido e, mais frequentemente, com uma exigência para que vá “administrar” um sacramento do ciclo da vida ou “dar” uma bênção como a encomendação.
O verdadeiro cristão caracteriza-se por três aspectos: crer em Cristo, a partir da escuta da Palavra de Deus, participar da vida da Comunidade eclesial, e seguir o Cristo como seu discípulo, com todas as suas consequências. Estes são os católicos cristãos participantes.
Para estes últimos a Igreja exerce a pastoral ordinária. Alimenta a sua fé e os conduz no caminho da perseverança em busca da perfeição da caridade. Para os católicos ocasionais dirige-se a nova evangelização e, para os demais, a missão.
Donde virão os cristãos que não apenas acolhem, mas se dispõem a comunicar a boa-nova do Evangelho e da vida em Cristo? Certamente dos 5% dos católicos participantes. Donde buscarão a força para testemunharem o Cristo morto e ressuscitado? Sobretudo da grande fonte que é a vida sacramental.
A maioria dos católicos no Brasil não vive sua vida cristã tendo os sacramentos como inspiração permanente ou como espiritualidade. Alimenta-se, de preferência, dos sacramentais. No fundo, encontra-se o problema da iniciação cristã, da catequese e da catequese de perseverança.
Os sacramentos, todos eles, não podem ser um acontecimento ocasional da vida. Importa que se transformem em forma de vida, em caminho de perfeição, em desafio de testemunho cristão, em modalidade de evangelização própria e do próximo. Assim, teremos mais católicos participantes.
Vivemos no Brasil uma religião de cunho social cultural, onde os sacramentos fazem parte da cultura, da vida social, mas pouca influência exercem sobre a vida concreta do cristão, sobre sua vida de conversão evangélica e de compromisso social, na construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Os Sacramentos são administrados e recebidos e, em seguida, arquivados como sinais quase mágicos de salvação para a outra vida.
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