Pe. Fernando Lorenz possui graduação em Filosofia, Teologia, Psicologia e pós-graduação em Liturgia (Unisal) e Metodologia do Ensino Superior (Unigran). É assessor diocesano da Animação Bíblico-catequética da Diocese de Dourados (MS); assessor da Pastoral Litúrgica da Diocese de Dourados (MS). Professor de Liturgia e Pastoral em cursos e escolas de formação na Diocese de Dourados (MS).
Oferecer aos fiéis o significado profundo do espaço celebrativo consiste em um dos desafios da pastoral litúrgica. Em um livro com o mesmo nome, Pe. Fernando Lorenz propõe um caminho a ser percorrido pelos agentes da pastoral litúrgica, como também aos catequistas, que aponta as oportunidades para ampliar as percepções sobre metodologia litúrgico-catequética.
É preciso entender a importância da formação de equipes especializadas em cada celebração dos sacramentos, com o intuito de aprofundar o sentido histórico, teológico, bíblico, litúrgico, pastoral, espiritual e social dos ritos que compõem cada ação litúrgica.
“Pastoral Litúrgica: teoria e prática” tem como intencionalidade ampliar o conceito de pastoral litúrgica, identificar o campo de atuação dos agentes que atuam nesta pastoral, como também despertar a necessidade de desenvolver uma pastoral de conjunto. Trata-se de um percurso que visa conduzir para a vivência do Mistério celebrado na sua profundidade, dado que a liturgia é o patrimônio espiritual de toda a Igreja.
Em uma conversa descontraída, Pe. Fernando Lorenz falou sobre a importância de estabelecer a integração e o equilíbrio entre o pensar, o sentir e o fazer como aspectos que constituem a missão da pastoral litúrgica, além de nos contar como decidiu se tornar padre e mais algumas curiosidades sobre si mesmo.
Confira abaixo!
Editora Vozes: Como surgiu a ideia de escrever esse livro?
Pe. Fernando Lorenz: Escrever sempre será uma arte e um grande desafio dada a necessidade de conjugar a teoria com a prática pastoral. O desejo de escrever um livro sobre a Pastoral Litúrgica nasceu da necessidade de promover um caminho de integração entre fé e vida. A liturgia abraça os dramas da nossa existência, assim urge despertar essa sensibilidade litúrgica em todos nós. O próprio contexto pastoral evidenciou a importância de auxiliar os agentes da Pastoral Litúrgica a “avançarem para águas mais profundas”. A proximidade com as pessoas envolvidas no contexto pastoral emergiu da necessidade de ampliar a atuação dos agentes da Pastoral Litúrgica.
Editora Vozes: Seu livro é direcionado para qual público?
Pe. Fernando Lorenz: Este livro é indicado para todos os agentes das pastorais e movimentos que queiram aprimorar os seus conhecimentos sobre a identidade da Pastoral Litúrgica. Oferece caminhos de interação entre a Pastoral Litúrgica e o itinerário de iniciação à vida cristã, dialoga com a pastoral familiar, os grupos de recém-casados, a fim de que se estabeleça a relação entre a celebração do matrimônio e o Mistério Pascal. Todos nós, batizados, temos a possibilidade de saborear os bens da eternidade por meio dos ritos litúrgicos.
Editora Vozes: Quais são os principais desafios da Pastoral Litúrgica atualmente?
Pe. Fernando Lorenz: A Pastoral Litúrgica em nossas comunidades é reduzida em distribuir as funções das celebrações litúrgicas. É preciso resgatar a atuação desses agentes e levá-los a ampliar o conceito de pastoral litúrgica e o modo como atuamos em nome dela. É preciso promover em todo contexto paroquial uma autêntica espiritualidade litúrgica. A Pastoral Litúrgica é responsável em cultivar e integrar a vida ao Mistério Pascal de Cristo. Dentre os desafios que encontramos, podemos citar: o improviso, o racionalismo, o sentimentalismo presente em nossas celebrações. É preciso ler os clássicos da teologia litúrgica, oferecer escolas diocesanas de liturgia que capacitem e especializem agentes para as diversas celebrações litúrgicas da Igreja. Algumas pessoas pensam que formação litúrgica consiste em dizer “isso pode, ou não pode?” Não podemos limitar a abordagem da liturgia apenas no direito litúrgico.
Editora Vozes: No livro você sugere que pensemos a Pastoral Litúrgica à luz da sinodalidade. Como seria isso?
Pe. Fernando Lorenz: A liturgia é vivência e expressão de uma Igreja sinodal, na qual todos caminham juntos a partir da escuta, do discernimento e da participação. Falar de uma Igreja sinodal consiste em revelar a própria natureza do ser da Igreja. É viver a comunhão como fim de toda ação pastoral, mas também como caminho, como método para renovar as estruturas eclesiais que não respondem aos desafios da ação evangelizadora nos dias atuais. Não podemos ignorar o sopro do Espírito Santo em nossas comunidades paroquiais. Em meio às dificuldades, somos impelidos a compreender que o modus viventi e o modus operanti da Igreja nos tempos atuais devem ser a sinodalidade, a comunhão, a participação.
Editora Vozes: Você defende a promoção de uma pastoral de conjunto. Poderia nos explicar o que consiste essa pastoral e o que é necessário para colocá-la em prática?
Pe. Fernando Lorenz: A Pastoral de Conjunto é a capacidade de pensar e agir em unidade e comunhão. A própria fundamentação do agir pastoral pressupõe a compreensão do ser sinodal da Igreja. A ação pastoral em sua raiz é cristológica, dado que é do múnus de Cristo que deriva a missão da Igreja, o seu agir na história é eclesial. O labor pastoral é o exercício da comunhão. Nesse horizonte a interlocução entre todas as pastorais e movimentos de nossas comunidades se faz necessário. Não podemos pensar a atuação pastoral de modo isolado, mas sim em estilo sinodal. É fato que de modo geral as paróquias enfrentam os mesmos desafios, dentre os quais podemos citar: dificuldade de encontrar pessoas que tenham um perfil de liderança capaz de construir unidade, ou pregadores realmente preparados no âmbito teológico e espiritual, a falta de comprometimento dos cristãos; a necessidade de uma linguagem resolutiva diante dos problemas pastorais, temos a impressão de que sempre estamos começando as pastorais e os movimentos. Diante de inúmeras situações, o que podemos pensar e realizar para inovar a forma como evangelizamos? Para encontrar novos caminhos é preciso considerar que quando estamos juntos temos a oportunidade de ampliar o nosso repertório de resoluções por meio da escuta e do discernimento. Os problemas todos nós já sabemos, agora precisamos pensar e focar nas soluções. Faça uma pequena observação: as narrativas de nossas reuniões pastorais predominam mais uma atitude otimista ou pessimista? É preciso superar uma gestão pastoral fechada em si mesma e autorreferencial para uma gestão que utilize os pressupostos da sinodalidade. Uma “Igreja em Saída” consiste em ir ao encontro de tantas pessoas que não estão em nossas comunidades. A pastoral de conjunto é a expressão viva do exercício da sinodalidade, em que todos caminham juntos.
Editora Vozes: Como foi participar do Catequistas Brasil?
Pe. Fernando Lorenz: O Catequistas Brasil é uma das iniciativas que respondem às reais necessidades da Igreja no Brasil no âmbito catequético, um evento que oferece atualização teológica, catequética, espiritual para os nossos catequistas. É ocasião de renovar o ardor missionário e promover diálogos que geram vida e renovação. Uma iniciativa dos leigos catequistas que expressa o seu protagonismo diante da evangelização, o amor a Jesus e os apelos do Concílio Vaticano II. Gratidão a todos que organizam, apoiam e promovem essas iniciativas. Vamos juntos, na unidade, trabalhar em prol da formação e renovação de nossos catequistas à luz da Palavra de Deus. Não tenhamos medo de sermos ousados. A fé nos faz criativos e nos lança para frente.
Editora Vozes: Conte-nos um pouco sobre você. Como e quando decidiu se tornar padre?
Pe. Fernando Lorenz: Desde criança falava que queria ser padre, mas não sabia que tinha que estudar filosofia e teologia. Aos 12 anos comecei a participar dos encontros vocacionais da Paróquia São Paulo Apóstolo de Ivinhema/MS sob a orientação do Pe. Adriano Stevanelli. Aos 14 anos entrei no seminário menor Sagrado Coração de Jesus na cidade de Dourados/MS. Foi uma das experiências mais incríveis que tive, mas ao mesmo tempo desafiador. Depois de um tempo em que estava no seminário, minha avó paterna revelou o fato de que numa ordenação presbiteral no dia 2 de abril de 1988 ela pediu a Deus que um dos netos dela fosse padre. E justamente naquele dia eu estava completando um ano de vida. Neste ano de 2023 irei celebrar 10 anos de vida presbiteral. Peço a todos que rezem por mim!
Editora Vozes: Já tem um tema para um próximo livro?
Pe. Fernando Lorenz: A Liturgia é um campo fecundo, seja para a vida espiritual como também para a vida intelectual. Tenho ainda algumas ideias, a primeira em dar continuidade na elaboração de um segundo volume sobre a dimensão simbólica da liturgia a fim de oferecer aos catequistas elementos metodológicos capazes de integrar catequese e liturgia, ou também de aprofundar as diversas dimensões das celebrações litúrgicas.
Editora Vozes: Qual livro está lendo agora?
Pe. Fernando Lorenz: Atualmente estou lendo “A mística do instante: tempo e promessa” de José Tolentino, uma obra que nos faz saborear o presente. E um livro de Harmut Rosa, “Aceleração: a transformação das estruturas temporais na modernidade”.
Editora Vozes: Poderia indicar para os leitores um livro que marcou sua vida e que vale muito a pena a leitura?
Pe. Fernando Lorenz: “O sentido teológico da liturgia”, de Cipriano Vagaggini; “O espírito da liturgia”, de Romano Guardini; “Catequese e liturgia”, de Thiago Faccini.
Se você quer compreender a importância da atuação da Pastoral Litúrgica e avançar para águas mais profundas, este livro é para você! Esta obra tem como intencionalidade ampliar o conceito de Pastoral Litúrgica, identificar o campo de atuação dos agentes que atuam nesta pastoral, como também despertar a necessidade de desenvolver uma pastoral de conjunto. O autor propõe um caminho a ser percorrido pelos agentes da Pastoral Litúrgica, como também aos catequistas, que aponta as oportunidades para ampliar as percepções sobre metodologia litúrgico catequética. Trata-se de um percurso que visa conduzir para a vivência do Mistério celebrado na sua profundidade, dado que a liturgia é o patrimônio espiritual de toda a Igreja.
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