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  • Redação

Discipulado missionário

A primeira polaridade dinâmica foi sintetizada pelo Documento de Aparecida nos termos de “discipulado missionário”, e está relacionada ao eixo “seguimento-envio” com a decolonialidade epistêmica que convida a aprender a desaprender para aprender de outra maneira.



O discípulo é um “aprendiz”. O discipulado missionário significa uma aprendizagem na missão, ou seja, no (des)encontro com os outros. Com efeito, a própria experiência histórica dos seguidores de Jesus testemunha que eles não estavam confinados a adquirir conhecimentos teóricos, mas acompanhavam o Mestre enquanto “percorria toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho e curando toda e qualquer doença” (Mt 4,23). De vez em quando, paravam no caminho e pediam explicações, ensaiando um encontro formativo, pautado, porém, no que acabava de acontecer na missão.


O discipulado missionário significa também que o seguimento de Jesus tem uma finalidade: o Mestre chamou a si os que ele quis para enviá-los a anunciar a proximidade do Reino. O discipulado não representa algo de relevante em si sem o vínculo com a missão: a missão é o motivo principal do seguimento de Jesus. Mas também os discípulos são enviados à missão não como mestres (Mt 23,8), mas como aprendizes, despojados de tudo (Mt 10,9), “pobres no espírito” (Mt 5,3): esse testemunho fundamental é intrínseco ao peregrinar missionário aberto a acolher as boas-novas que se apresentam pelo caminho (At 10,34).


Enfim, o discipulado corresponde ao objetivo da missão de “fazer que todas as nações se tornem discípulos” (Mt 28,19), que não equivale a um proselitismo religioso, mas ao convite das bem-aventuranças (DSA 9), correlativo ao “bem-viver” indígena e a outras utopias das tradições asiáticas e africanas para um outro mundo possível.


Essa tensão criativa entre seguimento e envio remete, portanto, a uma reciprocidade fundamental entre receber e dar, aprender e ensinar, acolher e oferecer. As imagens do enviado como aprendiz, peregrino, estrangeiro, estão claramente vinculada às ações de receber, aprender, acolher. Mas também esse precisa ter algo a contribuir, a ensinar e a oferecer para que aconteça um diálogo e um intercâmbio.


Desta maneira, um contador de história deve ter algo para contar, um professor algo a ministrar, um guia de trilhas algum conhecimento do território (BEVANS; SCHROEDER, 2016, p. 83-88). Também a parteira de Illich deve saber como proceder para realizar o parto. Não cabe em determinadas situações ensaiar uma abertura a outros conhecimentos, quando as pessoas contam exatamente com habilidades e competências das quais o convidado é capaz.


Desta maneira, ao discípulo corresponde o mestre, que colocará sua mestria não como um saber superior, mas como um serviço humildemente executado e discipularmente partilhado, aberto às críticas e às surpresas. O enviado sabe de não saber tudo e de estar sempre aprendendo com seu exercício: trata-se de uma atitude fundamental articulada com uma atuação diligente, um ser que realiza um fazer, e vice-versa, que no caso da missionária e do missionário consiste em serviços concretos de testemunho, anúncio, celebração da Palavra, formação de comunidades, promoção de iniciativas em favor da vida, do diálogo e da cidadania, coordenação de projetos em relação à saúde, educação, cuidado com a criação etc.

 

Sobre a obra:


A missão evangelizadora, enquanto elemento estruturante da identidade cristã, diz respeito à razão fundamental do ser da Igreja. Todavia, ao longo dos séculos, manifestou-se geralmente por meio de uma ação embebida de um espírito hegemônico, expansionista e proselitista, intrinsecamente vinculada à epopeia colonial do Ocidente. Essa configuração revelaria a verdadeira alma, por vezes dissimulada, do movimento cristão? Ou seria possível repensar hoje no anúncio do Evangelho a todos os povos e, portanto, na natureza da própria Igreja, em uma perspectiva autenticamente dialógica e decolonial? Sobre essas questões se debruça a teologia contemporânea da missão à luz da renovação conciliar.


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