Entrevista especial: homenagem à vocação sacerdotal
- Redação
- há 2 horas
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1º Domingo do Mês das Vocações

O mês de agosto é um tempo especial na Igreja do Brasil: o Mês das Vocações. A cada domingo, celebramos e refletimos sobre um chamado específico. No primeiro domingo, a atenção se volta à vocação sacerdotal, reconhecendo a missão daqueles que, ouvindo o chamado de Deus, dedicam suas vidas ao serviço da Igreja como padres, diáconos e bispos.
A vocação sacerdotal é uma resposta generosa ao chamado de Cristo: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,17). Trata-se de uma vida doada à escuta, à oração, à celebração dos sacramentos e ao anúncio do Evangelho. E, nesse caminho, a catequese ocupa um lugar especial como instrumento fundamental de evangelização, formação e acompanhamento do povo de Deus.
Para inspirar nossa caminhada, preparamos uma entrevista especial com um sacerdote que compartilha sua história de fé, vocação e missão. Uma conversa que nos ajuda a compreender melhor o que significa ser padre nos dias de hoje e como a catequese é parte viva desse ministério.
Conheça o entrevistado:

Padre há 15 anos, Pe. Leandro atua na Região Centro-Oeste, na Paróquia Nossa Senhora das Graças, em Jussara (GO). Desde a sua ordenação presbiteral, a catequese passou a ser parte essencial da sua missão pastoral, com especial dedicação à formação de catequistas e ao aprofundamento da iniciação à vida cristã.
Sua vocação sacerdotal nasceu no ambiente familiar. Filho de pais catequistas e profundamente comprometidos com a vida da comunidade por mais de 35 anos, encontrou no testemunho deles a base para escutar e acolher o chamado de Deus. Além disso, o convívio com um pároco próximo à sua família foi decisivo para que se encantasse com o ministério sacerdotal, admirando especialmente a forma como esse sacerdote acolhia as pessoas com misericórdia e generosidade.
Pe. Leandro é também coautor do livro Koinonia, publicado pela Editora Vozes, uma contribuição significativa para a reflexão e prática da catequese na Igreja do Brasil.
“O chamado de Deus se faz ouvir no silêncio do coração.”
Como o senhor descobriu sua vocação sacerdotal? Houve um momento marcante? A descoberta da minha vocação se deu dentro do contexto familiar. Deus sempre toma iniciativa e nos chama de um lugar concreto. No meu caso foi em primeiro lugar, a minha família. Tive a graça de nascer em uma família que sempre viveu a vida cristã e a prática da fé em uma comunidade cristã. Cresci vivenciando os meus pais serem catequistas e servirem nos diversos serviços da comunidade por mais de 35 anos. O testemunho deles sempre foi fundamental para que eu pudesse acolher o chamado que Deus estava realizando na minha vida. Além disso, em casa, nossa família sempre priorizou pela oração diária do terço e dos encontros bíblicos oferecidos pela diocese. Isso me possibilitou crescer em um ambiente de muita confiança do amor de Deus. Em segundo lugar, através do testemunho comunitário dos meus pais e demais familiares. Logicamente, essa inserção deles também me ajudou em me envolver com a dinâmica da comunidade onde realizei com a ajuda dos “animadores vocacionais” e também do pároco, o processo de discernimento da vocação presbiteral e, desde cedo, descobrindo que a comunidade de fé é o lugar para o exercício das diversas vocações. A amizade fraterna da minha família com o pároco da minha paróquia auxiliou muito nesse processo, no qual foi um grande testemunho de vida e me fez apaixonar pela vocação presbiteral pela forma como aquele padre acolhia as pessoas e as tratava com misericórdia. Um home profundamente de Deus. Em síntese, a minha vocação foi um processo que contou com vários sujeitos: Deus, a Igreja e minha família.
De que forma a catequese fez (ou faz) parte da sua missão como padre/diácono/bispo? Diz o Diretório Nacional da Catequese no sétimo capítulo intitulado Ministério da catequese e seus protagonistas, que os presbíteros devem estimular a vocação e a missão dos catequistas e da atividade catequética. Para tal elenca dez atitudes do presbítero em relação a catequese que vai desde o entusiasmo, o acompanhamento, o estímulo, o zelo, o incentivo até o favorecimento de uma formação adequada com os catequistas. Por fim, suscitar na comunidade o senso de responsabilidade para com a catequese (cf. DNC 248-249). Assim como o bispo em sua diocese é o primeiro catequista, o padre em sua paróquia é o primeiro catequista. Desse modo, a catequese na vida de um presbítero é sua tarefa fundamental, sobretudo no que diz respeito a formação dos catequistas, sendo que, serão eles a trabalharem diretamente com os catequizandos. Falo por experiência pessoal que, se o presbítero coloca seus esforços no acompanhamento da catequese em sua comunidade paroquial, além dos catequizandos, toda a comunidade acaba se envolvendo direta e indiretamente com o processo formativo e catequético. Logicamente a participação nas celebrações será maior, o engajamento nas pastorais e serviços é comprometedor, o dízimo melhora. Enfim, é o conjunto da comunidade que cresce porque terá cristãos bem preparados para testemunhar Jesus Cristo.
Quais os maiores desafios e alegrias em evangelizar por meio da catequese? Irei elencar apenas um desafio e um alegria:
O maior desafio que considero entre muitos nos dias de hoje está em tomar consciência que de estamos em uma época de pluralismos de experiências religiosas. São várias as experiências que se oferecem no mundo de hoje. Por isso o desafio está em oferecer um processo catequético consistente e processual em nossas comunidades, cuja finalidade está em fazer crescer nos cristãos, sobretudo nos adultos, o amadurecimento da fé.
A alegria consiste em experienciar na vida comunitária e nos processos de acompanhamento pessoal, percursos de conversão, transformação e amadurecimento tanto humano, quanto na fé. Como é prazeroso encontrar homens e mulheres conscientes de sua vocação batismal e apaixonados por Jesus Cristo e sua Igreja.
O que o senhor diria a um jovem que sente o chamado ao sacerdócio, mas tem dúvidas? Como toda a vocação, é preciso realizar discernimentos e renúncias à luz da Palavra de Deus. Diante da pro-vocação que Deus faz a cada pessoa humana, é preciso oferecer uma resposta. Essa resposta se dá com a própria vida a serviço do Reino e que chamamos de vocação. Afirmo com toda a certeza que vale a pena servir a Deus nos irmãos e irmãs em comunidade. Portanto, só podemos servir bem, se estamos bem. Ou ainda: só se oferece aquilo que se tem. Portanto, é preciso cuidar de si para cuidar dos outros. As duas dimensões andam juntas e se completam. Vale a pena gastar a vida por Cristo e este Cristo na vida das pessoas.
Que mensagem o senhor deixaria aos catequistas que atuam em nossas comunidades? Catequistas, vocês por vocação e chamado de Deus, são colaboradores do Espírito Santo. Como compreender isso? O protagonista da missão não é o catequista, mas conforme afirmou o Concílio Vaticano II, é o Espírito Santo enviado pelo Pai e pelo Filho, no coração e na consciência de cada cristão. No entanto, o catequista colabora com o Espírito que já trabalha na vida das pessoas. Olha que definição bonita de ministério de catequista! Colaboramos com o Espírito para tornar o amor de Deus conhecido na vida de muitas pessoas. Parabéns pela sua vocação e seu dia. Sua vida e vocação é dom para nossa Igreja.
Neste domingo, somos convidados a rezar e agradecer pelos nossos padres, diáconos e bispos, e também a despertar em nossos jovens o desejo de escutar a voz de Deus. Que a catequese continue sendo um espaço fecundo para cultivar vocações e formar discípulos missionários a serviço do Reino.
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