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Natividade da Bem-aventurada Virgem Maria

  • Redação
  • há 6 minutos
  • 5 min de leitura

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A gloriosa Virgem Maria foi “como a estrela da manhã em meio à névoa” (Eclo 50,6).


Diz o Eclesiástico: “Beleza do céu é a glória das estrelas; glória que ilumina o mundo” (Eclo 43,10). Nesta expressão são postos em evidência três eventos, que refulgiram admiravelmente na Natividade da Bem-aventurada Virgem Maria.


Primeiramente a exultação dos anjos, indicada pelas palavras: “Beleza do céu”. Conta-se que um santo homem, enquanto perseverava em devota oração, ouviu vir do céu a doce melodia de um canto angélico. Passado um ano, ouviu-a novamente no mesmo dia. Então pediu ao Senhor que lhe revelasse o significado desse evento. Foi-lhe respondido que naquele dia havia nascido Maria e que no céu os anjos cantavam a Deus os louvores por sua natividade: essa é a razão de se festejar hoje a Natividade da Virgem gloriosa.


Em segundo lugar é posta em destaque a pureza de sua Natividade com as palavras: “a glória das estrelas”. Como “cada estrela se distingue das outras por sua claridade” (1Cor 15,41), assim a Natividade da Bem-aventurada Virgem distingue-se daquela de todos os outros santos.


Em terceiro lugar é recordada a luz que iluminou todo o mundo com as palavras: “ilumina o mundo”. A Natividade da Virgem gloriosa iluminou o mundo, que antes estava coberto pela escuridão e pela sombra da morte. E por isso, com razão afirma o Eclesiástico: “Como a estrela da manhã em meio à névoa...” etc.


Maria, anunciadora do salvador e toda perfeita em si mesma.


A estrela da manhã é chamada luzeiro, porque brilha mais do que todas as estrelas, e de maneira mais exata é chamada jubar, esplendor, astro. Luzeiro, que precede o sol e anuncia o dia, afasta as trevas da noite com o fulgor de sua luz. Estrela da manhã, ou luzeiro (portadora de luz), é a Virgem Maria que, nascida na obscuridade da nuvem, dissolveu a tenebrosa escuridão e, aos que estavam nas trevas, na manhã da graça, anunciou o sol da justiça. Com efeito, referindo-se a ela, o Senhor diz a Jó: “És tu porventura que fazes aparecer a seu tempo a estrela da manhã?” (Jó 38,32). Quando chegou “o tempo de usar misericórdia” (Sl 101,14), “o tempo de construir a casa do Senhor” (Ag 1,2), “o tempo favorável e o dia da salvação” (2Cor 6,2), então o Senhor fez surgir a estrela da manhã, isto é, a Virgem Maria, para que fosse a luz dos povos. E os povos devem dizer a ela aquilo que o povo de Betúlia disse a Judite: “O Senhor abençoou-te com sua fortaleza, porque Ele por ti aniquilou os nossos inimigos. Ó f ilha, tu és bendita do Senhor Deus altíssimo, mais do que todas as mulheres que há sobre a terra. Bendito seja o Senhor, que criou o céu e a terra, que te dirigiu para cortares a cabeça ao príncipe dos nossos inimigos. Porque hoje engrandeceu o teu nome tanto, que nunca o teu louvor se apartará da boca dos homens” (Jt 13,22-25).


Na sua Natividade, a Bem-aventurada Virgem Maria foi, pois, como a estrela da manhã. Dela diz ainda Isaías: “Sairá uma vara do tronco de Jessé, uma flor brotará de sua raiz” (Is 11,1). Observa que a Virgem Maria é comparada a uma vara, por causa das cinco propriedades que esta possui: é longa, reta, sólida, sutil e flexível. Assim, Maria foi longa na contemplação, reta por sua per feita justiça, sólida pela firmeza da mente, sutil (sóbria) pela pobreza e flexível pela humildade. Essa vara saiu do tronco de Jessé, que foi o pai de Davi (cf. Mt 1,5): dele descende Maria (cf. Lc 1,27), “da qual nasceu Jesus, chamado o Cristo” (Mt 1,16). Por isso, na festa de hoje lê-se o trecho do Evangelho que recorda a genealogia de Cristo, filho de Davi (Mt 1,1).


“Sairá uma vara do tronco de Jessé e uma flor brotará de sua raiz” (Is 11,1). Consideremos o significado moral desses três elementos: a raiz, a vara e a flor.


Na raiz é simbolizada a humildade do coração; na vara, a retidão da confissão e a disciplina da satisfação; na flor, a esperança da bem-aventurança eterna. Jessé interpreta-se “ilha” ou “sacrifício”, e simboliza o penitente, cuja mente deve ser quase como uma ilha. A ilha é chamada assim porque é posta no meio do mar (latim: insula = in salo). A mente, a alma do penitente, é posta no mar, isto é, na amargura, porque é batida pelas ondas das tentações e, todavia, resiste inabalável e oferece a Deus um devido sacrifício de suave odor. A raiz de Jessé é a humildade da contrição, da qual brota a vara da franca confissão e a disciplina de uma discreta penitência. E observa bem que a flor não nasce na sumidade da vara, mas da própria raiz: “e uma flor brotará de sua raiz”, porque a esperança da bem-aventurança eterna não brota do sofrimento do corpo, mas da humildade do espírito.


Com tudo isso concorda também o trecho do evangelho, no qual Mateus, descrevendo a genealogia de Cristo, põe em primeiro lugar Abraão, em segundo lugar Davi e no terceiro a deportação para a Babilônia. Em Abraão que disse: “Falarei ao meu Senhor, ainda que eu seja pó e cinza” (Gn 18,27), é representada a humildade do coração; em Davi, cujo coração foi reto com o Senhor – “Encontrei Davi, homem segundo o meu coração” (At 13,22) –, é indicada a franqueza da confissão; na deportação para a Babilônia é recordada a prática da penitência e a tolerância às tribulações. Se houver essas três “genealogias”, conseguirás também a quarta, isto é, a de Jesus Cristo, que nasceu da Virgem Maria, da qual hoje se diz: “Como estrela da manhã em meio à névoa”.


E enfim: “Como a lua que brilha nos dias em que está cheia”.


A Bem-aventurada Virgem Maria é comparada à lua cheia, porque é perfeita sob qualquer aspecto. Enquanto a lua, se no ciclo, é por vezes incompleta, quando é crescente e quando é minguante, a gloriosa Virgem Maria jamais teve imperfeições: nem em sua Natividade, porque foi santificada ainda no seio materno e guardada pelos anjos; nem durante os dias de sua vida, porque jamais pecou pela soberba: sempre refulgiu na plenitude da perfeição. E é chamada luz, porque dissolve as trevas.


Rogamos-te, pois, ó Senhora nossa, que tu, que és a estrela da manhã, afastes com teu esplendor a nuvem da sugestão diabólica, que cobre a terra de nossa mente. Tu que és a lua cheia, enche o nosso vazio, dissolve as trevas dos nossos pecados, a fim de que mereçamos chegar à plenitude da vida eterna e à luz da glória infinita. No-lo conceda aquele que te criou para que sejas a nossa luz, aquele que hoje te fez nascer para que Ele próprio pudesse nascer de ti. A Ele seja dada a honra e a glória nos séculos dos séculos.


Amém.

Este texto foi retirado da obra Sermões sobre a Bem-Aventurada Virgem Maria, escrito por Santo Antônio de Pádua (Editora Vozes).


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