Pe Thiago Ap. Faccini Paro
Durante os quarenta dias da quaresma, a Igreja caminhou no deserto com o Cristo. Esse tempo foi marcado pela ausência de flores e pela cor roxa. Este tempo foi um momento forte de recolhimento e preparação para a grande festa da Páscoa. O domingo de Páscoa, considerado desde o início, como o oitavo dia da criação ou o dia da nova criação, abre os cinquenta dias do tempo pascal, encerrados com a festa de Pentecostes, quando celebramos a efusão do Espírito Santo sobre a Igreja.
Este tempo pascal deve ser uma fonte rica e abundante de vida para a comunidade. Nela, a comunidade deve se inspirar e alimentar durante sua caminhada anual. A Páscoa é um marco de renovação da comunidade e que deve ser sentido e percebido também pela disposição e ornamentação do espaço litúrgico.
A abundância de luz, as flores e a cor branca, sinal de festa, pureza, alegria, expressam sempre a vitória da Luz sobre as trevas, da vida sobre a morte. O branco nos lembra a cor da roupa dos ressurretos, lavada e alvejada no Sangue do Cordeiro (Ap. 7,13-14).
O maior símbolo da presença do Cristo Ressuscitado na vida da Igreja, o círio pascal, permanece aceso durante todo o tempo pascal ao lado do ambão, ornado com flores. Representa a presença do Cristo Luz do mundo no coração da sua Igreja. Αlfa e Ômega, primeira e última letra do alfabeto grego gravados no círio, quer dizer que o Cristo é o princípio e o fim de todas as coisas (Jo 22, 13). Os números do ano corrente demonstram que Cristo é o Senhor do Tempo (presente e escatológico). A cruz e seus cravos (que deveriam ser de grãos de incenso) fazem memória do caminho da cruz redentora por onde o Cristo passou e ainda passa nos sofrimentos atuais da humanidade. Cada um destes símbolos aponta para o alto onde está à luz da vitória, a realidade última prometida por Deus: a Ressurreição.
A água, com o qual todos nós batizados fomos banhados, ganha um profundo significado no tempo pascal. A começar pela solene aspersão dos fiéis feita na Vigília Pascal em memória ao do Batismo. Essa água que nos recorda a vida nova, o dia da nova criação, o dia em que fomos incorporados a Cristo, poderia ser mais evidenciada pela aspersão no ato penitencial nas celebrações dominicais, ou ainda, para as igrejas que não têm sua pia batismal às portas da igreja, por uma grande vasilha ornada com flores e cheia de água para que todos os fiéis, ao entrarem no espaço celebrativo, pudessem tocá-la e traçar o sinal da cruz sobre si.
O girassol, flor símbolo do cristão, costuma ornamentar nossas igrejas nesse período pascal, lembrando que assim como o girassol que “gira” à procura da luz, nós também, fieis e seguidores do ressuscitado, sempre devemos ir ao encontro da grande e verdadeira Luz, que é Jesus Cristo nosso Senhor. Que interessante seria ao final da celebração da Vigília Pascal, onde a igreja toda decorado com girassol, os fieis recebessem um saquinho com sementes de girassol, sendo incentivados a plantá-las, e cuidá-las, aguando, adubando... e ao mesmo tempo adubando e aguando a própria fé, com participação ativa e vivência intensa desse Tempo de grande esperança e alegria para nós cristãos.
O tempo pascal, é o momento também para a comunidade acabar com o velho que tomou conta do espaço litúrgico com o passar do tempo, após a Páscoa o espaço não pode continuar como era antes, assim como o cristão também não pode continuar o mesmo. Deve haver uma renovação, não se trata de botar abaixo e fazer tudo novo, mas de fazer novo o velho, ter um olhar e uma postura nova diante das coisas e do lugar. Não podemos nos esquecer de levar em conta a moderação para não acorrer em exageros que acabam ofuscando o Mistério celebrado.
Que esse seja um Tempo de festa e alegria da comunidade. Que o amor e a caridade superem todas as dificuldades e diferenças, e que realmente a Luz do Cristo ressuscitado ilumine nossa vida para que saibamos testemunhá-Lo e anunciá-Lo a todos os povos e nações.
Comments