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  • Redação

O que é o diretório para a catequese?, por Pe. Jânison de Sá

O Diretório para a Catequese oferece os princípios teológicos pastorais fundamentais e algumas orientações gerais relevantes para a prática da catequese em nosso tempo (DC, 10).


Os Diretórios na tradição:

  • Primeiro Diretório Catequético Geral da Sé apostólica de 1971 foi publicado a mandado do Vaticano II Para “tratar dos princípios e do ordenamento fundamentais da formação cristã”.

  • O Diretório Geral para a Catequese de 1997 foi uma atualização do anterior;

  • O DGC tornou-se quase que um manual ou compêndio de Catequética com critérios e normas de natureza Bíblico-teológico e metodológico pastoral com a função de coordenar a ação catequética.

Algumas novidades do novo Diretório:

  • Uma catequese em perspectiva missionária. Estamos em uma nova etapa missionária e o DC nos diz que a catequese está a serviço da nova evangelização. Esta opção missionária é a opção básica do documento. O critério que guia a redação deste documento “encontra-se na vontade de aprofundar o papel da catequese na dinâmica da evangelização (DC 5).

  • A espiritualidade na ação catequética - O verdadeiro protagonista de toda autêntica catequese é o ESPÍRITO SANTO (DC, 112). No número 113 afirma que o catequista é “servo da ação do Espírito Santo”.

  • Catequese querigmática - “que está presente no coração da fé e reúne o essencial da mensagem cristã, é uma catequese que manifesta a ação do Espírito Santo, que comunica o amor salvífico de Deus em Jesus Cristo e que continua a se doar pela plenitude da vida de cada pessoa” (DC 2).

O Pontíficio Conselho afirma que o novo Diretório para a Catequese “é um instrumento que pode ser aperfeiçoado. Não tem qualquer pretensão de estar completo, porque, por sua natureza, se destina às igrejas particulares, de modo que estas sejam estimuladas e auxiliadas na redação do seu próprio Diretório”.


O Diretório oferece algumas perspectivas, fruto do discernimento realizado no contexto eclesial das últimas décadas (DC 4).


a) Reitera-se a firme confiança no Espírito Santo, presente e atuante na Igreja, no mundo e nos corações das pessoas.


b) O ato de fé nasce do amor que deseja conhecer cada vez mais o Senhor Jesus, Vivente na Igreja e, por essa razão, iniciar os fiéis à vida cristã significa introduzi-los no encontro vivo com Ele.


c) A Igreja, mistério de comunhão, é animada pelo Espírito e feita fecunda para gerar vida nova. Com esse olhar de fé, reafirma-se o papel da comunidade cristã como lugar natural da geração e do amadurecimento da vida cristã.


d) O processo de evangelização, e nele a catequese, é, antes de tudo, uma ação espiritual. Isso exige que os catequistas sejam verdadeiros “evangelizadores com Espírito” (EG, n. 259-283) e fiéis colaboradores dos pastores.


e) Reconhece-se o papel fundamental dos batizados. Em sua dignidade de filhos de Deus, todos os fiéis são sujeitos ativos da proposta catequética, não beneficiários passivos ou destinatários de um serviço e, por essa razão, são chamados a se tornarem autênticos discípulos missionários.


f) Viver o mistério da fé em termos de uma relação com o Senhor tem implicações para o anúncio do Evangelho. Exige, com efeito, a superação de toda a contraposição entre conteúdo e método, entre fé e vida.


A primeira parte (A catequese na missão evangelizadora da Igreja) oferece os fundamentos do inteiro percurso. A Revelação de Deus e a sua transmissão na Igreja abrem a reflexão sobre a dinâmica da evangelização no mundo contemporâneo, assumindo o desafio da conversão missionária, que atinge a catequese (Capítulo I). A catequese vem delineada na caracterização de sua natureza, finalidade, atividades e fontes (Capítulo II). O catequista – cuja identidade (Capítulo III) e formação (Capítulo IV) são apresentadas – faz visível e operativo o ministério eclesial da catequese.


A segunda parte (O processo da catequese), entra-se nos méritos da dinâmica catequética. Em primeiro lugar, apresenta-se o paradigma de referência que é a pedagogia de Deus na história da salvação, que inspira a pedagogia da Igreja e a catequese como ação educativa (Capítulo V). À luz desse paradigma, os critérios teológicos para o anúncio da mensagem do Evangelho são reorganizados e adequados às necessidades da cultura contemporânea. Além disso, o Catecismo da Igreja Católica é apresentado em seu significado teológico-catequético (Capítulo VI). O Capítulo VII apresenta algumas questões acerca do método na catequese com referências, entre outras coisas, ao tema das linguagens. A segunda parte termina com a apresentação da catequese com os diversos interlocutores (Capítulo VIII).


A terceira parte (A catequese nas Igrejas particulares) mostra como o ministério da Palavra de Deus toma forma na concretude da vida eclesial. As Igrejas particulares, em todas as suas articulações, realizam a tarefa do anúncio do Evangelho nos diversos contextos em que estão inseridas (Capítulo IX). Nessa parte, reconhece-se a peculiaridade das Igrejas Orientais, que têm uma tradição catequética própria. Cada comunidade cristã é convidada a se confrontar com a complexidade do mundo contemporâneo, no qual se fundem elementos muito diversos (Capítulo X). Diferentes contextos geográficos, cenários religiosos, tendências culturais – embora não afetando diretamente a catequese eclesial – plasmam a fisionomia interior do nosso contemporâneo, ao qual a Igreja se coloca a serviço e, portanto, não podem deixar de ser objeto de discernimento em vista da proposta catequética. Vale ressaltar a reflexão sobre a cultura digital e sobre algumas questões da bioética, que fazem parte do grande debate dos nossos anos.


Os principais temas do Diretório para a Catequese


1. Catequese como iniciação mistagógica


A catequese como iniciação mistagógica (EG, n. 166) insere o fiel na experiência viva da comunidade cristã, verdadeiro lugar da vida de fé. Essa experiência formativa é progressiva e dinâmica; rica em sinais e linguagens; propícia à integração de todas as dimensões da pessoa. Tudo isso se refere diretamente à conhecida intuição, bem enraizada na reflexão catequética e na pastoral eclesial, da inspiração catecumenal da catequese, que se torna cada vez mais urgente (DC 2).


A ação pastoral alimenta a fé dos batizados e os ajuda no processo permanente de conversão da vida cristã. Na Igreja, “o batizado, impulsionado sempre pelo Espírito Santo, alimentado pelos sacramentos, pela oração e pelo exercício da caridade, e ajudado pelas múltiplas formas de educação permanente da fé, procura tornar seu o desejo de Cristo: ‘Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito’ (Mt 5,48)” (DGC, n. 56d). Nisso consiste o chamado à santidade para entrar na vida eterna. O início dessa etapa corresponde ao tempo da MISTAGOGIA no itinerário catecumenal (RICA, n. 7; 37-40). (DC 35).


A restauração do catecumenato, favorecida pelo Concílio Vaticano II, foi alcançada com a publicação do Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA). O catecumenato, verdadeira escola de “formação de toda a vida cristã” (AG, n. 14), é um processo estruturado em quatro tempos ou períodos, com o objetivo de guiar o catecúmeno ao encontro completo com o mistério de Cristo na vida da comunidade, e é, portanto, considerado um lugar típico de iniciação, catequese e mistagogia. Os ritos de passagem entre os períodos destacam a gradualidade do itinerário formativo do catecúmeno (DC 63).


2. Iniciação à vida cristã


A catequese de iniciação cristã se interliga à ação missionária, que chama a fé, à ação pastoral que a alimenta continuamente. A catequese é parte integrante da iniciação cristã e está intimamente unida aos sacramentos da iniciação (DC 69).


Unidade dos três sacramentos


Os sacramentos da iniciação cristã constituem uma unidade porque “põem os alicerces da vida cristã: os fiéis, renascidos pelo Batismo, são fortalecidos pela Confirmação e alimentados pela Eucaristia” (Comp. CIgC, n. 251). É importante reiterar que, de fato, “somos batizados e crismados em ordem à Eucaristia. Esse dado implica o compromisso de favorecer na ação pastoral uma compreensão mais unitária do percurso de iniciação cristã” (SCa, n. 17). É oportuno, portanto, avaliar e considerar a ordem teológica dos sacramentos – Batismo, Confirmação, Eucaristia – para “verificar qual é a prática que melhor pode, efetivamente, ajudar os fiéis a colocarem no centro o sacramento da Eucaristia, como realidade para qual tende toda a iniciação” (SCa, n. 18).


A catequese de iniciação cristã é uma formação de base, essencial, orgânica, sistemática e integral da fé (DC 71):


a) de base e essencial, enquanto aprofundamento inicial do querigma que explicita os mistérios fundamentais da fé e dos valores evangélicos basilares. “A catequese lança os fundamentos do edifício espiritual do cristão, alimenta as raízes da sua vida de fé, habilitando-o a receber o sucessivo alimento sólido, na vida ordinária da comunidade cristã” (DGC, n. 67)

b) orgânica, enquanto coerente e bem ordenada; sistemática, isto é, não improvisada ou ocasional. A exposição orgânica e sistemática do mistério cristão distingue a catequese das outras formas de anúncio da Palavra de Deus

c) integral, porque se trata do aprendizado aberto a todos os componentes da vida cristã. A catequese gradualmente favorece a interiorização e a integração desses componentes, provocando uma transformação do homem velho e a formação de uma mentalidade cristã.


Essas características da catequese de iniciação são de modo exemplar expressas na síntese da fé já elaborada pela Escritura (na tríade fé, esperança, caridade) e depois na Tradição (fé acreditada, celebrada, vivida e orada) (DC 72).


3. Catecumenato, fonte de inspiração para a catequese


A necessidade de “não dar por suposto que os nossos interlocutores conhecem o horizonte completo daquilo que dizemos ou que eles podem relacionar o nosso discurso com o núcleo essencial do Evangelho” (EG, n. 34) é a razão tanto para afirmar a natureza querigmática da catequese quanto para considerar sua inspiração catecumenal (DC 61).


O catecumenato é uma antiga prática eclesial, restaurada após o Concílio Vaticano (SC, n. 64-66; CD, n. 14; AG, n. 14), oferecida aos convertidos não batizados. Apresenta, portanto, uma explícita intenção missionária e se estrutura como um complexo orgânico e gradual para iniciar à fé e à vida cristã.


Justamente por causa de seu caráter missionário, o catecumenato pode também inspirar a catequese daqueles que, apesar de já terem recebido o dom da graça batismal, não desfrutam de sua riqueza: nesse sentido, se fala de inspiração catecumenal da catequese ou do catecumenato pós-batismal ou catequese de iniciação à vida cristã (CIgC, n 1231; DAp, n. 286-288).


A inspiração catecumenal da catequese não significa reproduzir, ao pé da letra, o catecumenato, mas assumir seu estilo e dinamismo formativo, respondendo também à “necessidade de uma renovação mistagógica, que poderia assumir formas muito diferentes de acordo com o discernimento de cada comunidade educativa” (EG, n. 166). O catecumenato tem um tom missionário natural, que na catequese, com o passar do tempo, foi se enfraquecendo (DC 64).


4. Catequese e cultura digital


A introdução e o uso em massa de ferramentas digitais têm causado mudanças profundas e complexas em muitos âmbitos com consequências culturais, sociais e psicológicas que ainda não são totalmente claras. O digital, que não corresponde somente à presença de meios tecnológicos, de fato caracteriza o mundo contemporâneo e sua influência tornou-se, em pouco tempo, ordinária e contínua, a ponto de ser percebida como natural. Vive-se “em uma cultura amplamente digitalizada, que afeta de modo muito profundo a noção de tempo e de espaço, a percepção de si mesmo, dos outros e do mundo, o modo de comunicar, de aprender, de informar-se, de entrar em relação com os outros” (ChV, n. 86).


O digital, portanto, não apenas faz parte das culturas existentes, mas está se estabelecendo como uma nova cultura, modificando primeiramente a linguagem, moldando a mentalidade e reformulando as hierarquias dos valores. E tudo isso em escala global, uma vez que, apagando distâncias geográficas com a presença generalizada de dispositivos conectados em rede, envolve as pessoas em todas partes do planeta (DC 359).


A internet e as redes sociais criam uma oportunidade extraordinária de diálogo, encontro e intercâmbio entre pessoas, bem como de acesso à informação e ao conhecimento. Por outro lado, o ambiente digital é um contexto de participação sociopolítica e cidadania ativa, e pode facilitar a circulação de informações independentes capazes de proteger com eficácia as pessoas mais vulneráveis, expondo as violações de seus direitos (DC 360).


A tecnologia digital pode ajudar a memória, por exemplo, por meio de ferramentas de captura, armazenamento e restituição de dados. As ferramentas de coleta digital de dados os instrumentos de suporte às decisões melhoram capacidade de escolha e permitiram coletar mais dados para avaliar as implicações para diversas questões. De muitas maneiras, pode-se positivamente falar de um aprimoramento digital.


Clique e acesse o material completo:

Slides - Diretório para a Catequese
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Sobre o autor:


Pe. Jânison de Sá, doutor em Teologia com concentração em catequética pela Pontifícia Universidade Salesiana de Roma (2011), assessor de Animação Bíblico-catequética da CNBB e membro da Sociedade Brasileira de Catequetas (SBCat).

 

Texto baseado no curso Diretório para a Catequese,

ministrado pelo Padre Jânison de Sá e realizado pela Editora Vozes.


Saiba mais sobre os Cursos Vozes: vozes.com.br/cursos-vozes/

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