Por Anselm Grün

Em primeiro lugar, não recomendo a leitura do Antigo Testamento do início ao fim. Pois nele há muitos textos que realmente necessitam de uma explicação. No entanto, pode-se muito bem iniciar com os dois primeiros livros:
O livro do Gênesis com as maravilhosas histórias da criação e as narrativas sobre Abraão, Jacó e José. E, em seguida, a história do êxodo do Egito, relatada no livro do Êxodo, até seu capítulo 20. Nesse caso, ajuda ler esses textos como poesia, como obras poéticas. Eles expressam antigas experiências que as pessoas fizeram consigo mesmas e com Deus.
Além disso, seria errôneo aplicar nossos padrões morais atuais a esses textos. Antes, eles descrevem os altos e baixos da condição humana. Indicam os nossos próprios abismos e, repetidas vezes, a misericórdia de Deus, que nos aceita assim como somos.
No Antigo Testamento sugere-se, além disso, a leitura do livro de Tobias bem como dos livros de sabedoria: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Jesus Sirac (Eclesiástico). Nesses textos, a sabedoria é descrita para as pessoas numa linguagem bem franca. E os Salmos nos oferecem a oportunidade de apresentar as nossas próprias experiências diante de Deus, em especial quando não mais sabemos o que e como rezar.
Também nos livros dos profetas Isaías e Jeremias há histórias maravilhosas. Ouvimo-las, sobretudo, na época do Advento e do Natal. Para muitos, esses textos proféticos nos prometem um mundo demasiadamente belo. No entanto, esses textos têm um poder explosivo em si. Podemos ouvi-los ou lê-los com o seguinte sentimento: Com esses textos, Deus nos revela as possibilidades que nos esperam. Vemos o mundo, frequentemente, com olhos mais pessimistas. Os textos proféticos querem nos dar novos olhos, com os quais podemos perceber a ação de Deus já aqui e agora, neste mundo. Em meio a este mundo cheio de medo e terror há também vestígios da ação de Deus. Repetidamente, ele transforma o nosso deserto em um lago, abre poços no deserto, converte as espadas em arados. Confiar nessas palavras significa vivenciar o mundo de outra maneira.
No Novo Testamento é bom iniciar com a leitura dos quatro evangelhos, mas é preciso tirar o tempo necessário para permitir que cada um dos textos surta efeito. Em continuação, pretendo escrever principalmente sobre a forma de interpretar os evangelhos. Além disso, recomenda-se a leitura das Cartas de Paulo e as outras Cartas do Novo Testamento. Às vezes temos a impressão de que são muito abstratas. Tampouco precisamos compreender tudo. No entanto, podemos constatar que, por exemplo, Paulo e João ou Pedro e Tiago concebem de maneira bem diversa a nossa vida como cristãos. A diversidade amplia nosso coração e permite estarmos abertos para o mistério do nosso ser cristão e não basearmos nossa vida cristã unilateralmente numa determinada teologia.
Sobre a obra:
Ao iniciarmos a leitura da Bíblia, podem nos surgir várias dúvidas: “Por onde eu começo?”, “Será que eu vou compreender tal leitura?”, “Como usar os textos nos dias atuais?” Nesta obra, Anselm Grün nos apresenta instrumentos básicos para introduzir e interpretar a Bíblia, que nos possibilitam entender suas diversas perspectivas (histórica-crítica, espiritual e mística, teológica, eclesial, psicologia profunda, teológico-libertadora e pessoal), sendo útil àqueles que buscam nas Escrituras uma reflexão pessoal, mas também àqueles que querem sugestões de aprofundamento teológico e eclesial.
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