Por Pe. Almerindo da Silveira Barbosa
O Evangelho deste domingo narra mais um dos muitos momentos em que Jesus realiza milagres. Trata-se do milagre em que o Senhor cessa a tempestade em meio ao mar bravio.
Durante a travessia do mar, nos diz o texto, Jesus está dormindo e, diante da tempestade, os discípulos lutam sozinhos contra as ondas fortes. Já é noite e, depois de um dia de muito trabalho, todos estão cansados. Ainda assim estão atravessando o mar em direção ao outro lado. Não seria o momento de voltar para casa, em Cafarnaum, para descansar?
Diante de tantas informações e de um momento tão desesperador, podemos ser tentados a pensar porque fazer uma travessia tão perigosa, a noite e, ainda mais, Jesus, tranquilo, dormindo, diante de tanto perigo? O objetivo do evangelista não é dizer que Jesus tem poder de realizar milagres ou que ele é indiferente às dificuldades e desespero dos discípulos. São Marcos quer nos apresentar quem é Jesus. Quem é esse que até as águas do mar bravio obedecem?
Estamos diante de imagens que já são conhecidas para todos nós. O barco, o mar, a tempestade, etc. O barco é símbolo da comunidade cristã, que é solicitada por Jesus a partir à outra região, para continuar o anúncio do Reino de Deus. Neste caso, são chamados para irem à região do território dos pagãos. Durante a viagem acontece uma forte tempestade, que impossibilita continuar o trajeto. O barco e as pessoas que lá estão são colocados em perigo.
Além do barco, lutando contra o mar, temos a escuridão da noite e o sono de Jesus, como realidades profundamente significativas. A escuridão remonta-nos à criação do mundo, onde tudo estava rodeado de trevas. O sono de Jesus significa sua morte. Ele já não é uma presença física no meio da comunidade cristã. Por isso os apóstolos tem a sensação de que estão sozinhos, abandonados pelo Mestre.
O que o Evangelho nos ensina é que a realidade vivida pelos apóstolos não é diferente da que vivemos hoje. Diante dos desafios para anunciar o Reino de Deus, somos tentados a pensar que Jesus não caminha conosco. Porém nossa fé e nossa confiança Nele devem permitir que acreditemos no que Ele prometeu de que estaria conosco, todos os dias, até o fim dos tempos.
Também nos ensina o Evangelho que, mais cedo ou mais tarde, todos nós passaremos por tempestades e tribulações. Diante delas, não podemos fazer como os apóstolos. Não esqueçamos que Jesus caminha conosco. Ele nos guia, nos orienta e não nos abandona.
Às vezes, diante das realidades vividas, de modo especial nesse tempo de Pandemia, podemos achar que Jesus dorme e não age diante de tanto sofrimento e tantas perdas. Confiemos e acreditemos que Ele participa das nossas dores e dos nossas angustias. Em seu tempo dará provas de que não dorme, mas caminha do nosso lado. Ele deixa que apenas aprendamos a enxergá-Lo com os olhos da fé e não ficar esperando milagres extraordinários. Se confiarmos e fizermos nossa parte, Ele nos conduzirá e chegaremos do outro lado do mar são e salvos.
Que possamos ter a mesma serenidade que Jesus teve, para enfrentarmos o caminho da nossa existência terrena. Diante das tempestades possamos não desanimar, nem ter medo de continuar nossa missão de anunciar o Reino de Deus, através da comunidade de fé, que navega no mar do mundo com seus desafios e suas escuridões.
Pe. Almerindo da Silveira Barbosa, formado em Filosofia e Teologia, pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais, o colunista também possui especialização em Ensino Religioso, pela Faculdade do Noroeste de Minas (FINOM), e em Teologia Pastoral, realizada na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Pe. Almerindo é coautor da coleção “Deus Conosco” e do livro Quem é esse Jesus e autor da obra A missa – Conhecer para viver, também publicado pela Editora Vozes.
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