Durante as semanas de agosto, vamos apresentar e explorar o conteúdo do livro Escolhendo Jesus, através de uma série de textos publicados na obra. Ao término, será possível encontrar pistas de ação que auxiliarão o trabalho na sua paróquia. Confira!

Decidir-se. E agora?
Pe. Elias Silva
Precisamos, também, ajudar nossos jovens a escolher o caminho no qual abraçarão o querer de Deus em suas vidas. Diante de tantas possibilidades, a escolha de um caminho não é tão simples. Os acompanhantes/assessores de grupo não podem minimizar esse processo, mas precisam levar em consideração que os jovens, no momento da escolha, são tomados por fragilidades que os petrifi cam, por medos, dúvidas e angústias. E o decidir implica ação, um gesto concreto. Aqui saímos do plano teórico e entramos no plano real e existencial, com as devidas consequências e repercussões sociais e pessoais.
Neste momento é comum, especialmente aos jovens, dizerem para si mesmos: e agora? O que faço? Não sei o que escolher, e nem minha vida de oração tem me ajudado! É preciso orientá-los para que procurem redobrar a calma e, acima de tudo, a confiança no Pai que nos criou, pois Ele é o maior interessado em nos ver felizes e caminhando rumo à nossa realização Nele.
Primeiramente, o acompanhante/assessor de grupo precisa ajudar o jovem, para que ele saiba olhar, por mais óbvio que seja, para ter uma decisão inicial de buscar realizar a vontade de Deus em sua vida, pois somente assim poderá decidir olhar e questionar-se: qual o plano de amor de Deus para mim? Não é um simples olhar, mas uma decisão de olhar, por isso é importante orientá-los a sempre fazer esta oração: “Senhor dai-me a graça de ter olhos e ouvidos espirituais para que possa ver e ouvir sua voz, perceber em minha vida seu toque e proteção”. Com estes olhos espirituais fica mais fácil responder as dúvidas e angústias.
Depois deste primeiro momento em que o jovem decide olhar, faz se necessário conduzi-lo para que ele perceba na sua vida e história os toques de Deus e busque interpretar os sinais que Ele tem usado para se comunicar amorosamente com ele. Todo processo de discernimento vocacional precisa partir da história pessoal de cada um, pois é nela que Deus habita, e quando a pessoa percebe isto fi ca mais fácil tomar a decisão, pois Deus deixa seus rastros de amor em cada momento. Perceber os sinais de amor é a garantia de um processo mais tranquilo de escolha diante das diversas possibilidades.
Depois de olhar e tentar perceber os sinais de Deus em sua história, cabe a pessoa a responsabilidade da escolha, pois, como já vimos, Deus nos garante o dom da liberdade diante das possibilidades. É importante, também, ajudar os jovens a perceber que precisam se envolver com a escolha, é responsabilidade pessoal responder ao dom, daí vem a gratuidade de se fazer dom. Infelizmente, por mais que perceba os sinais e toques de Deus, no processo de discernimento muitas vezes o sujeito pode deixar pra lá e fi ngir que não é com ele, ou talvez deixar para pensar nessa hipótese em outro momento, é um contínuo deixar para depois, e não há um envolvimento afetivo e efetivo com a necessidade de escolher. Contudo, o que muitos não se dão conta é que esta ação já é por si mesma uma escolha, já é outra possibilidade sendo escolhida.
Neste momento é imprescindível convidar o jovem a se questionar sobre quais as motivações que embalam esta ou aquela escolha. Na verdade, são as motivações que vão garantir a permanência neste ou naquele caminho. Diante das inúmeras possibilidades posso escolher aquelas que mais me apetecem, as mais vantajosas,aquelas onde minha turma se faz presente, ou até mesmo nem refl etir sobre quais as verdadeiras motivações e escolher algo para que resolva logo aquele impasse. Como são frágeis estas motivações, pois partem de fora e tentam convencer o nosso interior, e como não se consegue tal convencimento, fi ca-se com a terrível resignação: “deixa assim mesmo, está bom”, reinam o conformismo e a certeza quase plena que nunca será diferente. É preciso ajudar o jovem a questionar se suas escolhas são inspiradas nas verdadeiras motivações, ou seja, aquelas que fazem com que assumam o seu verdadeiro “eu”, sua essência e identidade. A verdadeira motivação sempre traz o sujeito para fora de si mesmo, pois ele descobre que servir e se colocar à disposição é a consumação mais plena de todo chamado, por isso, é necessário fazer com que os jovens olhem à sua volta e se encontrem em meio a sociedade, a comunidade que também necessita de sua verdadeira resposta para sua missão.
Diante desta busca por motivações verdadeiras devemos orientar os jovens a se voltarem sempre para Aquele que os criou e colocou dentro de cada um o desejo de felicidade e de realização plena – mesmo sabendo que a plenitude se dará somente no entardecer da nossa vida, quando O encontraremos face a face, mas desde já somos vocacionados a escolher o que nos torna “eu”, configurando-nos a Ele. O amor eterno de Deus que os chama desde sempre precisa ser a verdadeira motivação para querer escolher o Caminho específico da vocação própria, pois é exatamente essa certeza que vai fazer com que cada um continue caminhando mesmo em meio a cruzes e obstáculos que surjam no caminho, sendo capaz de servir o próximo e o ajudar em seu caminho de santidade.
Todos nós somos convidados a realizar um dos maiores atos de fé diante de Deus, que é o abandono, a confiança plena nesse Deus que cuida de nós. O abandonar-se em Deus, confiando todos os sonhos e projetos nas mãos Dele. Essa atitude leva à confiança plena em Deus e nos seus sonhos para nós, à obediência diante da Sua voz e à esperança certa Nele, pois mesmo diante de nossas infidelidades e dúvidas Ele permanece fiel para conosco, pois “sei em quem depositei a minha fé” (2Tm 1,12b). Não há um verdadeiro discernimento vocacional e a consequente escolha do verdadeiro caminho sem um abandonar-se em Deus, fazer tudo Nele e por Ele. Quando olhamos as vidas dos santos, encontramos essa atitude de entrega e abandono nas mãos carinhosas e poderosas de Deus. Esse talvez seja o grande segredo dos santos: o abandono certo em Deus.
O abandonar-se em Deus é, primeiramente, uma atitude de fé e confiança, mas que tem como consequência natural e prática o sair de si mesmo, entregando e confiando projetos e sonhos nas mãos de Deus. Talvez um dos momentos mais difíceis no processo da escolha seja renunciar, e não a coisas e pessoas, mas a si mesmo, pois eu abraço os sonhos Dele, quero o querer Dele, ofertando tudo o que sou e tenho. O necessário sair de si mesmo nos eleva ao nível de abandono feito pelos santos, em que a nossa vontade é ofertada para que seja abraçada a vontade Dele, não de uma maneira automática, esquecendo-nos da liberdade humana, mas, na verdade, o abandono faz com que nós queiramos livremente o que Ele quer para nós.
Estas são questões que precisamos apresentar aos jovens para que eles possam livremente se questionar diante das mais diversas escolhas, sejam elas profissionais, afetivas ou religiosas. Pois todas elas garantem, ou não, a cada um ser quem Deus sonhou, abraçando seu plano original de amor. Em um determinado momento da vida vai ser necessário escolher: qual profissão seguir, com quem quero me relacionar e qual estado de vida vou assumir; e neste momento preciso ser muito coerente, primeiramente com Deus e comigo, para escolher não qualquer possibilidade, mas na liberdade assumir o que, de fato, vai me tornar mais verdadeiro e autêntico, mesmo estando em uma época em que o mundo nos parece tão ilusório e mentiroso. Ser quem nascemos para ser: eis o grande desafio desta proposta de autenticidade diante das possibilidades e caminhos.
Pistas de ação:
Reúna os jovens e disponibilize folhas de papel e canetas a todos. Depois, proceda a leitura do Salmo 1, convidando para que, a partir desse texto, cada jovem se questione e perceba quais os muitos caminhos que tem à sua frente. Peça para que respondam as questões sugeridas na sequência e anotem as respostas no papel. Oriente para que se reúnam em pequenos grupos e partilhem suas respostas. No fi nal, peça que redijam uma oração pessoal, pedindo a Deus a coragem necessária para a decisão na escolha do caminho correto. É importante que o animador do grupo acompanhe os pequenos grupos, mediando as possíveis situações que necessitem de sua intervenção ou ajuda.
Sobre a liberdade de fi lhos de Deus, apresente estas questões para os jovens, grupos juvenis e vocacionais. Diante das várias possibilidades que lhes aparecem:
Como têm se colocado diante da necessidade da decisão?
Têm se questionado sobre suas motivações para esta ou aquela escolha?
Têm buscado abandonar-se em Deus, confiando-se incondicionalmente a Ele? E, ainda, diante das possibilidades escolhem confiar Nele mais do que em si mesmos?
Nestes momentos a Igreja não pode abandonar os jovens, precisa estar perto, questionando e acariciando, fazendo com que eles se decidam, não tenham medo, pois Deus está com eles. Sejamos os sinais que apontam para o Cristo, que ainda hoje os chama e dá forças para O seguirem.
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