A linguagem litúrgica é de um arrojo inaudito. Certas realidades, que não ousaríamos expressar por palavras, nós as vivenciamos através de símbolos do culto cristão.
Um dos símbolos mais eloquentes é o pão e o vinho, que no plano da graça querem expressar o que significam no plano natural.
Existe no homem o íntimo desejo de comunhão de vida com Deus. Gostaria de estar unido a Ele como a comida e a bebida se tornam um com seu corpo. O homem tem fome e sede de Deus. Não deseja apenas conhecê-lo e amá-lo, mas apoderar-se dele, possuí-lo, consumi-lo, comê-lo e bebê-lo, saciar-se plenamente nele.
Para exprimir que Deus veio ao encontro deste desejo do homem, Cristo, o pão da vida, escolheu o símbolo do pão e do vinho, da comida e da bebida.
Pão significa união, alimento, vida. Como o alimento se torna um com o homem, Deus quer unir-se ao homem.
Vinho é bebida. Mas não bebida que apenas mata a sede. É bebida que alegra, inebria, faz transbordar de felicidade. Assim Deus constitui a felicidade do homem, a saciedade do homem.
Cristo se tornou para nós pão e vinho. Podemos comê-lo e bebê-lo, isto é, podemos tornar-nos um com Ele na saciedade inebriante da vida feliz. Este pão torna-se para nós garantia da imortalidade.
No pão e no vinho existe também muito de humano. O pão para ser pão passa por um longo processo. Igualmente o vinho. Por isso podemos dizer que o pão e o vinho quando usados no Sacramento da Eucaristia adquirem um tríplice sentido. Eles representam nossa vida e todas as coisas criadas por Deus. Toda a criação constitui objeto de ação de graças a Deus. E o homem a oferece a Deus como rei da criação. Em segundo lugar, o pão e o vinho significam o trabalho, a capacidade de criar do homem, sendo também nisto semelhante a Deus. Em terceiro lugar – e isto é algo de inaudito e nós o aceitamos porque Cristo no-lo revelou – o pão e o vinho significam nossa comunhão de vida com Deus, onde Cristo se torna comida e bebida no Banquete Eucarístico. Deus vem ao encontro do homem no seu desejo de comunhão de vida com Ele.
Pão e vinho, símbolos de comida e bebida, exprimem pois a nossa vida, como também a nossa ação, a indústria do homem, seu domínio sobre a natureza que ele trabalha e transforma. Significam, outrossim, o próprio Cristo no mistério de sua Morte e Ressurreição.
Com Ele nós nos damos inteiramente, com todas as nossas qualidades e capacidades, todo o nosso trabalho e nossas realizações, toda a nossa vida relacionada com Cristo, vivida na maior intensidade possível a serviço do próximo.
A preparação destas ofertas não constitui ainda o sacrifício como tal. O pão e o vinho querem recordar, recolher toda essa realidade humana em Cristo. A serviço dessa preparação está toda a Liturgia da Palavra que quer dar maior sentido à nossa vida, aumentando a nossa fé, avivando a nossa esperança e intensificando o nosso amor. Quando, pois, representantes da assembleia apresentam as ofertas, levam a nossa vida, o nosso trabalho, as nossas realizações e conquistas, unidos a Cristo. Podemos dizer que, de certa maneira, nós nos colocamos sobre o altar para sermos transformados em Cristo e por Ele apresentados ao Pai. O homem aparece na presença do seu Deus, que o agraciou com a existência e o cumulou com a nova vida da graça. Toma daquilo que Deus lhe deu e que ele realizou pelo seu trabalho para dizer que tudo lhe pertence, tornando-se, desta forma, o pão e o vinho sinal do homem mesmo, daquilo que ele é e daquilo que ele faz. Deus, por sua vez, aceita este dom, o homem mesmo, representado pelos símbolos do pão e do vinho. Não só os aceita, mas os transforma, os assume pela ação de graças.
Em resposta à oferta de nossa existência, em conformidade com a sua santíssima vontade, Deus mesmo se dá em alimento. Ali se realiza aquele desejo do homem de participar da vida e da imortalidade de Deus, não pelo orgulho como no caso de Adão e Eva, mas pela humildade, reconhecendo a sua condição de criatura mortal.
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