Que São Francisco se tornou pobre, que ele viveu uma vida simples todos sabem. Mas como se pode entender o fato de que ele é patrono da ecologia, ou mesmo sua ligação com a natureza e cuidado dos animais, ao ponto de compor um Cântico onde se louva a Deus por toda a criação? Como compreender o fato de, 800 anos depois de sua morte, um papa escolha o nome e o legado de São Francisco como traço característico de seu pontificado, um pontificado marcado pela preocupação com o ser humano e toda a criação?
A dificuldade em entender esta relação está no fato de que, ao invés de ir à raiz da vida cristã de Francisco, geralmente se permanece na superficialidade romântica das histórias.
A comunhão que se nota entre o Pobre de Assis e toda a criação é o resultado de um processo de seguimento de Cristo, o servo obediente do Evangelho. Algo maduro e não inicial ou pueril. O tornar-se cristão que se inicia pelo batismo, não leva o ser humano apenas à rezar e cumprir o mandamentos, mas o encaminha a participação na vida de um Cristo cósmico e total, o Novo Adão, que reassume o lugar de Jardineiro, abandonado pelo primeiro Adão, afastado de Deus pelo pecado.
Os relatos sobre Francisco, o representam cantando o Cântico do Irmão Sol, louvando – ainda que cego pela doença – a obra do Criador. As pinturas que o retratam entre os pássaros, dialogando com o lobo, servindo vinho aos ladrões apontam para a profecia Isaias, segundo a qual, nos dias da vinda do Senhor, o lobo e o cordeiro pastarão juntos, a criança colocará a mão na toca da serpente e esta não lhe fará mal, ou seja, uma imagem da harmonia e da reconciliação.
Desde o testemunho de São Francisco, o Papa nos convoca – por meio da Laudato Si’, que comemora 5 anos de promulgação – a levar a cabo este anúncio do Evangelho, que tem seu ápice no respeito e uso consciente de toda a criação. Ele nos impele a uma ecologia integral, onde a natureza e a vida humana não sejam entendidas como separadas, mas numa unidade indissolúvel. Alimento, moradia, cultura, lazer, cuidado com a natureza, segurança, bem como respeito entre as pessoas e suas diferenças, são todas faces da mesma Páscoa, onde Cristo quer renovar o mundo e dar vida e gerar vida em abundância. Todas elas falam da oikos, da casa – do homem e de Deus – que mais do que nunca precisa de reconciliação e de cuidado.
Deste modo – a nós que somos catequistas – vale lembrar que promover na iniciação cristã este testemunho de cuidado da Casa Comum não é um adereço opcional, mas é o cume direcional de nossa missão.
Trecho adaptado do texto: Francisco de Assis: um Evangelho Cósmico, uma Ecologia Integral, publicado originalmente no site www.vozes.com.br. Clique no link para ler na íntegra.
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