Celebrar a ceia eucarística é muito mais do que um rito sacramental. Ela é a expressão mais perfeita do mistério eucarístico e exige uma dinâmica que transforma nossa vida e renova nossas esperanças num mundo melhor, com o anseio de servir à causa do Reino de Deus.
Quando esteve aqui, na Jornada Mundial da Juventude, o Papa Francisco disse que “a Eucaristia é o mistério central da vida cristã”. Todas as dimensões sobre a Eucaristia revelam partes de sua essência, mas não englobam sua plenitude. Em outras palavras, fazem parte da sua “realidade histórica”, mas não esgotam seu mistério profundo e insondável, os quais somente pela fé podemos compreender. Entendemos sempre mais que esse mistério que se originou na última ceia se irradia e se expande nos séculos e em todos os povos, pois é uma memória dinâmica que fortalece a Igreja no presente e projeta para novas experiências e novas realidades. A vida concreta do povo está sempre fecundando a espiritualidade da ceia eucarística, e foi sempre assim, pois desde os primórdios do cristianismo esse sacramento esteve integrado à vida dos fiéis e das comunidades. Os rituais da ceia sempre se integraram aos fatos cotidianos, como no ágape da comunidade de Corinto (cf. 1Cor 11,17) ou em relação aos discípulos a caminho de Emaús (Lc 24,13ss.). A relação entre a Eucaristia e a vida é mútua, pois a vida leva à Eucaristia e esta ilumina a vida. Recordamos ainda que a cena de lava-pés (cf. Jo 13,1ss.) está integrada 88 à ceia final de Jesus. Isso nos mostra que a verdadeira celebração leva à vida e transforma nossa forma de viver.
Já a partilha é um dom que se faz presente nas atitudes de Jesus; por isso, a narrativa da multiplicação dos pães é paradigma simbólico da Eucaristia, já que o comer e o beber em comunidade criam vínculos fraternos. Assim, o pão multiplicado e partilhado é o alimento que sustenta a multidão de famintos; partilha concreta e material, mas, sobretudo, é imperativo da partilha. Quando partilhamos a mesa eucarística nutrimo-nos do Alimento que sustenta o mundo, exigindo a prática da caridade e da solidariedade, amor a Deus e aos irmãos. Desse modo, estaremos no coração do mistério da Eucaristia quando entendermos que esse ritual que os cristãos celebram desde a última ceia é o encontro verdadeiro com Cristo que congrega a família cristã e nos transforma em sal da terra e luz do mundo. Há muitos séculos a comunidade de fé celebra essa ceia sagrada, sempre para cumprir o pedido de Jesus feito na última ceia (cf. Lc 22,19): até o final dos tempos (cf. 1Cor 11,26). Que Ele, quando voltar, encontre-nos celebrando a Eucaristia e praticando a caridade e a justiça.
Estarei sempre convosco todos os dias, até o final dos tempos (cf. Mt 28,20). Essa promessa do coração de Jesus plenifica o nosso coração de alegria. Nas passagens de agonia em nossa vida, como nos momentos de enfermidade, Deus está conosco.
Sobre o livro:
Conhecer a Missa que celebramos
Antônio Sagrado Bogaz João Henrique Hansen
Quando nos aproximamos do altar e partilhamos o Corpo e o Sangue do Senhor, acolhemos em nós seus bens mais elevados: a força, o perdão, a misericórdia, a partilha e a solidariedade. Deus divino nos oferta, nas espécies eucarísticas consagradas, sua vida plena, sua humanidade e sua divindade. Tal mistério contemplamos, celebramos e vivemos. A ceia eucarística é a oferenda divina partilhada entre todos os povos; melhor, com cada irmão. Vamos navegar nas águas profundas desse grande mistério humano-divino que renova nossa vida e transforma a história da humanidade.
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