A liturgia une hoje numa só comemoração três arcanjos, seguidamente nomeados nas Sagradas Escrituras. São eles: Miguel, Gabriel e Rafael.
Vejamos brevemente a posição deles na Bíblia e a veneração que lhes tributa a Igreja.
O primeiro arcanjo é São Miguel, que significa em hebraico “quem é igual a Deus”. Segundo a Bíblia, ele é um dos sete espíritos assistentes ao trono do Altíssimo, portanto, um dos grandes príncipes do céu e ministro de Deus.
O profeta Daniel é o primeiro hagiógrafo que nomeia este arcanjo e o chama de príncipe protetor dos judeus, enquanto depositário das grandes profecias e revelações do Antigo Testamento.
Sendo a Igreja o povo eleito por excelência, herdeira definitiva das revelações e mistérios divinos, ela se atribui a honra de considerá-lo também protetor especial dos Filhos de Deus, regenerados pelo sangue do Divino Cordeiro. Outra importante passagem relativa a este arcanjo é a do Apocalipse (12,7).
O apóstolo São João assim descreve uma rebelião havida: “Houve uma batalha no céu. Miguel e seus anjos tiveram que combater o dragão. O dragão e seus anjos travaram combate, mas não prevaleceram. E já não houve lugar no céu para eles. Foi, então, precipitado o grande dragão, a primitiva serpente, chamado Demônio ou Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Foi precipitado na terra e com ele os seus anjos”.
Última passagem alusiva a este arcanjo se encontra na carta de Judas, em que mais uma vez Miguel é protetor dos justos.
O segundo arcanjo é Gabriel. É citado duas vezes nas profecias de Daniel, como portador de revelações por parte de Deus.
Mas a figura deste arcanjo refulge numa luz toda especial no Evangelho de São Lucas, onde Gabriel, que significa “homem de Deus”, é o grande mensageiro do maior evento realizado na história: o nascimento de São João Batista, e sobretudo a Encarnação do Verbo no seio puríssimo da Virgem Maria.
A narração desta segunda aparição em São Lucas (1,26s) é de beleza insuperável. Ele cumprimenta Maria com suas palavras: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo”... em seguida se desenrola o maravilhoso diálogo entre o anjo e Maria, concluindo com as palavras do arcanjo: “O Espírito Santo descerá sobre ti e a força do Altíssimo te envolverá com sua sombra. Por isso o Santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus”. Ao que Maria respondeu: “Eis aqui a serva do Senhor, seja feito em mim conforme a tua palavra”.
Naquele momento, o Verbo de Deus se fez homem e habitou entre nós. Lendas judias contam que Gabriel foi um dos anjos que sepultaram Moisés.
O próprio fundador do islamismo, Maomé, declara ter recebido do Arcanjo Gabriel os suratas, isto é, os capítulos das revelações no Corão.
O terceiro arcanjo proposto hoje à nossa veneração é Rafael. A tradição bíblica reconhece em Rafael um dos sete espíritos que assistem ao trono de Deus. Dele, porém, se fala explicitamente uma só vez na Bíblia, isto é, no Livro de Tobias e figura como o arcanjo protetor e guia do jovem Tobias, enviado pelo pai para uma longa e perigosa viagem.
O nome Rafael significa “Deus curou” e se adapta perfeitamente ao piedoso ofício por ele desenvolvido, restituindo a vista ao velho Tobias. Também esta narração bíblica é de beleza incomparável, contendo preciosos ensinamentos morais e religiosos.
Trecho da obra: "O santo do dia" , de Dom Servílio Conti.
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