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  • Redação

Ceia eucarística: sua origem



Certo dia, Deus começou a formar um povo e a fazer a história com seu povo: é a História da Salvação. Teve início com Abraão. Abraão morava em Ur, na Caldeia, e Deus o chamou para habitar uma terra desconhecida, chamada Canaã. Mais tarde, José, descendente de Abraão, foi para o Egito e lá o Faraó, que era o rei, nomeou-o Primeiro Ministro do reino.


Então José levou para o Egito seu pai Jacó e seus irmãos. No começo eram bem-tratados. Mas, depois de muitos anos, os descendentes de Abraão passaram a ser escravos dos egípcios. Eram obrigados a cuidar de rebanhos e a amassar o barro para fazer tijolos. Nessa altura, já somavam meio milhão de pessoas e ficaram conhecidos com o nome de Povo Hebreu, Povo de Israel, Povo Judeu ou Povo de Deus.


Um dia, Deus teve pena de seu Povo e mandou Moisés tirá-lo da escravidão do Egito. O Faraó não quis deixar os hebreus saírem, pois, como escravos, trabalhavam de graça. Foi preciso Deus punir o Egito com dez castigos ou “pragas”. O último castigo foi a morte dos primogênitos dos egípcios. Morreu até o filho do Faraó. Então o Faraó deixou Israel sair.


A páscoa dos judeus


Na noite da partida, os judeus fizeram a Ceia Pascal. Páscoa quer dizer “passagem”. Aqui, é a passagem do Senhor como Libertador. Na Ceia, eles comeram o cordeiro pascal. E, com o sangue do cordeiro, tingiram o batente da porta de suas casas. Nas casas onde não houvesse o sangue do cordeiro, quando passasse o “anjo exterminador”, morreria o primogênito, isto é, o filho mais velho. Foi assim que morreram todos os primogênitos dos egípcios.


Essa famosa Ceia Pascal passou a ser celebrada todos os anos, no dia catorze do mês de Nizã (fim de março ou começo de abril. É na lua cheia da primeira semana da primavera, no Hemisfério Norte). Isto em cumprimento de uma ordem de Deus havia dado, “no Deserto do Sinai, no segundo ano da saída do Egito, no primeiro mês”. Assim falou o Senhor a Moisés: “Celebrem os filhos de Israel a Páscoa, no tempo determinado. No dia catorze deste mês, no crepúsculo” (cf. Nm 9,1-5).


E foi dentro dessa Ceia Pascal Hebraica que teve origem a Ceia Eucarística, celebrada por Jesus com os Apóstolos. Por isso, vamos ver resumidamente como era (e é até hoje) a Ceia Pascal dos judeus. É uma Ceia suculenta, muito mais que a nossa Ceia de Natal. Sua celebração atravessa a noite. Termina ao surgir a primeira estrela da manhã. Dela participa toda a família, incluindo as crianças. Não é uma Ceia feita simplesmente de comida e bebida. Nela, toda a História da Salvação é recordada e vivida, de pai para filho.


Algum rito da ceia hebraica


O judeu participa da Ceia Pascal, não como quem recorda um passado que se foi, mas como quem celebra um acontecimento que se faz presente. Quem preside começa dizendo: “Hoje saberão que é o Senhor (Javé) quem vai passar. Ele vai passar e nos libertar da escravidão e da morte”. Não se trata do deus estático e morto dos pagãos, mas do Deus vivo, que passa, arrasta e liberta com mão forte, dando um sentido novo à vida. E a passagem desse Deus libertador provoca no seu povo uma grande alegria ou “exultação da vida”, como já dissemos.


O judeu senta-se à mesa da Ceia Pascal para “fazer a sua história”, não apenas para recordá-la. Na Ceia, ele conta a seus filhos pequenos o que aconteceu, pois Deus lhe ordenou: “Contarás a teu filho tudo o que o Senhor fez por ti”. Então as crianças perguntam: “Por que esta noite é tão diferente de todas as outras noites? Nas outras noites nós vamos para a cama cedo; nós não temos esta Ceia...” E os pais explicam a seus filhos de maneira bem vivencial, colocando-se dentro da História da Salvação: “Porque fomos escravos no Egito. Se o Senhor não tivesse tirado nossos pais, nós, nossos filhos e os filhos de nossos filhos ainda seríamos escravos do Faraó”.


O judeu não diz que Deus tirou daquela escravidão somente os antigos. O judeu de hoje estava lá também. Ele se coloca junto dos libertados daquela noite, pois, se não fizer assim, quer dizer que ainda continua escravo. É uma história viva, inacabada, que passa pelos judeus de hoje e para seus filhos como coisa do presente e não de um passado que se foi.


Um dos momentos bastante significativos da Ceia Hebraica é a queima do pão velho. O chefe da família, que preside o ritual da Ceia, percorre todas as partes da casa com uma vela acesa na mão, bendizendo a Deus e queimando todo resto de pão fermentado que encontrar. Ele diz: “Senhor, se houver alguma coisa escondida dentro de mim, que ainda não encontrei ou que eu ignore, faça-a desaparecer de meu interior”. Porque comer do pão velho significa voltar a ter parte na escravidão do Egito.


A ceia eucarística


Como bom judeu, Jesus mandou os discípulos prepararem a mesa para a Ceia Judaica, como ela é. Sobre a mesa mandou Pedro e João colocarem tudo o que os judeus põem: ervas amargas, que simbolizam o sofrimento na escravidão do Egito; pães ázimos, isto é, sem fermento; vaso com água; vinagre, sal, ovo cozido e quatro taças ou cálices com vinho. O terceiro era chamado “cálice da bênção”. Este é que Jesus mudou no seu sangue. É por isso que São Lucas menciona mais de um cálice (cf. Lc 22,17-20).


A Eucaristia deve ser celebrada com alegria. Mais que a Ceia Hebraica, ela tem o sentido de “ação de graças”, de exultação plena da vida diante do infinito amor que Jesus manifesta por nós. A Páscoa dos judeus é o “memorial” da saída do Egito, celebrada como a maior festa de Israel. A Eucaristia é o “memorial” de Cristo Ressuscitado, libertador do pecado e da morte. Tanto é que, na Ceia, o Senhor disse aos Apóstolos: “Fazei isto em memória de mim” (cf. Lc 22,19). E esta “memória” não é só a recordação da Ceia, mas da vida, da mensagem, da morte e da Ressurreição do Senhor. É o testamento global de seu amor por nós.


A Eucaristia não é simplesmente uma das coisas que Jesus fez por nós: é a grande surpresa que Ele nos preparou durante toda a sua vida. Bem antes, já havia prometido que haveria de nos dar um “pão vivo descido do céu” e que esse pão seria a sua carne “para a nossa salvação” (cf. Jo 6,35-69). E, quando se aproximava a hora de realizar a sua promessa, Ele mandou Pedro e João prepararem a sala, no “andar superior”, para a Ceia, dizendo-lhes: “Eu desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco” (Lc 22,15).


Como se vê, a Ceia Pascal já existia antes de Cristo. Jesus lhe deu um novo sentido, introduzindo nela a “novidade” do seu Corpo e do seu Sangue. A Ceia Pascal Hebraica deu lugar à Ceia Eucarística. Os evangelistas não contam como era a Ceia Hebraica porque era demais conhecida no seu tempo. Eles apenas escrevem o que foi acrescentado por Jesus, isto é, a novidade do Corpo e do Sangue do Senhor.


Outra coisa: assim como a Páscoa dos judeus unia passado, presente e futuro, também a Eucaristia tem essas três dimensões. Pois recorda o que Jesus fez e o torna presente sobre o altar, “enquanto esperamos a sua vinda”.


Lembramos que “Eucaristia” não é só o Pão e o Vinho consagrados, mas toda a Celebração ou Missa.

 

Sobre o livro:


Pe. Luiz Cechinato


Este livro vem resgatar a riqueza da Celebração Eucarística, indo à sua origem e mostrando o significado de cada parte. Quer mostrar que a Missa não é simplesmente o cumprimento de um preceito, mas o feliz encontro com Deus. Traz histórias que tornam a leitura atraente, e um questionário que ajuda a gravar o ensinamento.

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