Por Débora Pupo
Iniciamos 2020 com boas expectativas, carregados de esperanças, certos de que nossos planos e projetos seriam levados adiante com as bênçãos de Deus. A ameaça do coronavírus parecia distante de nós. No entanto, fomos por ela alcançados e o mês de março trouxe mudanças que atingiram a Igreja em todas as suas atividades pastorais. Não se sabia até quando iriamos com as suspensões e restrições, e ainda não sabemos muito bem. Não sabíamos como agir, o que fazer, foram muitas perguntas, muitos questionamentos, parecíamos caminhar no escuro, queríamos respostas em um momento em que elas - as respostas - eram inexistentes.
Ao suspender os encontros presenciais de catequese, buscou-se iniciativas para que o processo catequético não caísse no vazio. E uma ação logo se destacou: o envolvimento das famílias.
O Diretório Nacional de Catequese, no número 238, nos lembra que “os pais recebem a graça e a responsabilidade de serem os primeiros catequistas de seus filhos”, por isso “mesmo diante dos desafios atuais da família, ela é chamada a dar os primeiros passos na educação da fé de seus filhos”. Ainda de acordo com o Diretório, agora no número 240, “a vida familiar é como um horizonte que dá direção ao nosso caminhar”.
Já o Papa Francisco, no documento que publicou sobre as famílias em 2016, nos alerta, que “a família não pode renunciar a ser lugar de apoio, acompanhamento e guia” (AL, n.260). Sobre a educação na fé o Papa diz que “a educação dos filhos deve estar marcada por um percurso de transmissão da fé [...] a família deve continuar a ser lugar onde se ensina a perceber as razões e a beleza da fé, a rezar e a servir o próximo” (AL, n. 287).
A Catequese sempre buscou dialogar com as famílias e conscientiza-las da necessidade de que acompanhassem o processo catequético das crianças, adolescentes e jovens. Porém, é preciso admitir, que nem sempre conseguimos atingir as famílias, e a Catequese sempre se ressentiu de um certo “abandono” de pais, mães e responsáveis, que parecem não se envolver como deveriam.
Mais uma vez me vem à mente as palavras de Francisco, pois o Papa nos diz que “a transmissão da fé pressupõe que os pais vivam a experiência real de confiar em Deus, de procura-Lo, de precisar d’Ele” (AL, n. 287). Isso me leva a questionar: temos procurado oferecer às famílias momentos de espiritualidade? Será que o fato delas parecerem ausentes não revela uma dificuldade de viver, em família, uma experiência de espiritualidade e encontro com Jesus de Nazaré?
A partir do momento que não é mais possível o encontro presencial entre catequistas e catequizandos, descobrimos, ainda que às apalpadelas, um meio de aproximar as famílias da catequese e as experiências se tornaram as mais variadas possíveis, mas a catequese saiu das “salas de encontro” e voltou para onde nunca deveria ter saído!
Essa situação me faz lembrar do texto bíblico de Marcos 2, 1-12, a cura do paralítico. Nesse texto temos um paralítico que é trazido, em sua maca, por quatro amigos que tentam se aproximar de Jesus. Como não conseguem aproximar-se, os homens que o trazem abrem um buraco no teto e descem a maca até a frente de Jesus. Esse texto sempre me chama atenção na questão do diálogo família e catequese.
A Catequese é desafiada, assim como os quatro homens que carregavam o paralítico, a favorecer a aproximação das famílias com Jesus. Se para isso é preciso abrir um “buraco no teto” esse buraco deve ser aberto!
Ora, vejo as iniciativas da catequese nesse período de pandemia como esse esforço de aproximação. Fecharam-se as portas das salas de catequese e abrimos uma janela na cozinha, na sala, no quarto e em toda casa de nossos catequizandos e seus familiares.
Bem sabemos que a Catequese é presença, é olho no olho, é contato! Mas não podemos minimizar a importância das iniciativas de tantos catequistas que não se deram por vencidos, nem ficaram parados esperado que tudo passe. Acredito que tais iniciativas podem ser definidas como janelas de proximidade, momentos em que nos aproximamos para dizer: estamos com vocês para nutrir a fé e manter acessa a chama da esperança!
Não deixemos passar esse momento, mas atenção! É preciso cuidar para não sobrecarregar as famílias e as crianças. Não é tempo de exigências e de trabalhos extensos ou complicados. O que nos é pedido, enquanto catequistas, é que ajudemos a estimular nossos catequizandos e suas famílias a se manterem próximos a Jesus e cultivar a intimidade com Ele, por meio de momentos de espiritualidade e oração. Não nos preocupemos com datas e conteúdo, aproveitemos desse momento para ajuda-los a crescer na fé, na esperança e na caridade.
Deus nos abençoe hoje e sempre!
Débora Pupo é Coordenadora Regional da Dimensão Bíblico-Catequética do Regional Sul 2, da CNBB e autora da coleção "Crescer em Comunhão" e dos livros: "Catequese... Sobre o que estamos falando mesmo?" e "Celebrações no Itinerário Catequético... Sobre o que estamos falado?", todos publicados pela Editora Vozes. Bacharel em Teologia, pela Faculdade Missioneira do Paraná, a colunista também é mestre na mesma área, formada pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Curitiba, tendo como título de sua dissertação: "Iniciação Cristã e Catequese com adultos: um caminho para o discipulado".
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