Por Pe. Almerindo da Silveira Barbosa
15º Domingo do Tempo Comum | Lc 10,25-37
A nossa felicidade passa pelo cuidado ao outro. Em todo o percurso de nossa vida dependemos do outro. Nosso primeiro e último banhos são dados pelo outro. O outro é a base para encontrarmos o sentido pleno da nossa existência. Sem o próximo nossa vida perde sentido e não damos conta de seguir a estrada da existência humana.
A parábola do bom samaritano é um grande exemplo de que nossa vida precisa ser construída e solidificada através da busca de sentido para a existência. Esse sentido nós o encontramos no cuidado uns com os outros.
O Evangelho, deste domingo, diz que um doutor da lei, ao escutar Jesus, quer colocá-lo em dificuldades. Faze-lhe uma pergunta: “mestre o que devo fazer para herdar a vida eterna?”. Ou o que devo fazer para ser feliz? O que devo fazer para contemplar a eternidade?
Jesus, sabendo da intenção dele, devolve com uma outra pergunta: “O que está escrito? Como lês?”. O mestre da lei responde com uma afirmação perfeita, própria de quem é uma pessoa conhecedora da lei. “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua força, todo o teu entendimento e ao próximo como a ti mesmo”.
Diante da reposta acertada mestre da lei, Jesus diz que respondeu bem. Pede para que ele faça o que disse e viverá e terá a vida feliz. Não satisfeito o mestre da lei continua questionando Jesus, querendo saber quem é o seu próximo. Jesus não lhe oferece resposta pronta. Para responder ele conta uma parábola, conhecida como a Parábola do Bom Samaritano.
A parábola diz que um certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes, que lhe arrancaram tudo, deixando-o quase morto. Diante do sofrimento daquele homem, três pessoas passaram em seu caminho e viram aquela situação, o sacerdote, o levita e o samaritano.
O sacerdote, que era o homem do templo, deveria conduzir o povo a uma prática saudável da religião e cumprir sua função com cuidado, olha o homem caído, mas não se envolve. Viu o homem caído no caminho, passou e seguiu adiante.
Em seguida passou o levita, que era quem auxiliava o sacerdote nas coisas do Templo. Ele também, viu o homem caído, até chegou ao lugar em que ele estava, mas seguiu adiante.
Por último passou o samaritano. Ele viu o homem caído, moveu-se de compaixão, aproximou-se, tratou dele, fez curativos, derramou óleo e vinho em suas feridas. Não satisfeito, colocou o homem em seu animal, levando-o a uma hospedaria, onde continuou cuidando dele por um dia e, quando foi embora, pegou duas moedas, deu ao dono da pensão, dizendo “cuida dele! Quando eu votar, vou pagar o que tiveres gasto a mais”.
Depois de contar a parábola Jesus pergunta ao doutor da lei, quem, na opinião dele, fez-se próximo do homem caído à beira do caminho. Ele responde que foi aquele que sentiu as suas dores, aquele que estava sofrendo e necessitado de ajuda. Jesus, então, diz para ir e fazer a mesma coisa. Pois o próximo é aquele de quem eu me faço próximo. Isso é amor ao próximo. Isso é cuidado!
Com a história contada, Jesus ensina que o próximo é aquele que somos capazes de nos aproximar, mesmo que nunca tenhamos visto. O amor ao próximo se manifesta na capacidade de ver, mover nosso coração de compaixão, aproximar e cuidar, gastando tempo com que está necessitado.
A grande e questionadora pergunta do texto é o que é preciso fazer para ganhar a vida eterna? Acredito que aqui está o escopo da mensagem de Jesus. Nosso compromisso de seguidores do Senhor é devolver o maior bem às pessoas, que é a sua dignidade, muitas vezes perdida pelo sistema político, capitalista, opressor e recheado de ideologias, que destroem e matam.
Precisamos nos conscientizar de que, aquele que está à beira do caminho, precisa voltar ao centro, precisa continuar sua caminha. Não pode ficar ali parado, enquanto prosseguimos. O cristão é aquele que se faz companheiro de caminhada. É aquele que auxilia o outro, para não ficar à margem. É alguém que, não somente vê e passa adiante, mas vê, tem compaixão e cuida do seu semelhante, porque sabe que está cuidando do próprio Jesus Cristo. É alguém que, diante das feridas do seu próximo, passa azeite e óleo para que elas possam ser saradas e cicatrizadas.
Somos chamados a descobrir o sentido da vida, à luz da mensagem de Jesus. Encontraremos o sentido da existência quando formos capazes de cuidar uns dos outros, pois a vida é um emaranhado de ternura, de afeto e de compaixão. Quando nós nos abrimos a cuidar do outro automaticamente sentimos os efeitos em nós mesmos.
Pe. Almerindo da Silveira Barbosa, formado em Filosofia e Teologia, pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais, o colunista também possui especialização em Ensino Religioso, pela Faculdade do Noroeste de Minas (FINOM), e em Teologia Pastoral, realizada na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Pe. Almerindo é coautor da coleção “Deus Conosco” e do livro Quem é esse Jesus e autor da obra A missa – Conhecer para viver, também publicado pela Editora Vozes.
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