Entrevista especial em homenagem à vocação do catequista – 5º Domingo do Mês das Vocações
- Redação
- 29 de ago.
- 6 min de leitura
No 5º Domingo do Mês das Vocações, a Igreja no Brasil celebra com gratidão a vocação do catequista — homens e mulheres que, movidos pela fé, dedicam tempo, dons e coração à missão de evangelizar. Ser catequista não é apenas uma função dentro da Igreja: é uma vocação profunda, um chamado pessoal para testemunhar e formar discípulos no caminho do Evangelho.

A missão catequética transforma vidas. Quem ensina, também aprende. Quem evangeliza, também é evangelizado. A catequese acontece nos encontros semanais, nas visitas às famílias, nas celebrações litúrgicas, mas sobretudo no testemunho silencioso e perseverante de cada catequista que diz “sim” a Deus e à comunidade.
Para marcar esse domingo tão especial, trazemos uma entrevista com um catequista que vive com alegria, humildade e profundidade a sua vocação. Seu testemunho nos inspira a continuar firmes na missão de formar corações para Deus.
Entrevista Vocacional — Com o coração em missão: a vocação de ser catequista
Conheça a entrevistada:

Flávia Carla Nascimento é catequista há 28 anos e, atualmente, exerce a missão de Coordenadora da Catequese da Diocese de Ponta Grossa (PR), na Paróquia Santana – Catedral, pertencente ao Regional Sul II.
Natural de uma família profundamente enraizada na fé católica, desde cedo foi inspirada pelo testemunho recebido no lar e pela formação em um colégio de irmãs. Ainda jovem, ingressou no curso de Odontologia, formando-se cirurgiã-dentista aos 22 anos. Apesar da realização profissional, sentia em seu coração o desejo de viver uma vida com sentido mais profundo e dedicada ao serviço do próximo.
Foi nesse tempo de discernimento que, em um domingo de missa, ouviu o convite de seu pároco para que novos catequistas se apresentassem. Flávia reconheceu, naquele instante, a resposta às suas orações: era o chamado de Deus para colocar seus dons a serviço da evangelização. Sua trajetória é marcada por fé, entrega e o firme propósito de fazer da Catequese um espaço vivo de encontro com Cristo.
“Ser catequista é deixar que Deus fale por nossas palavras e atitudes.”
O que motivou você a aceitar o chamado para ser catequista?
Cresci em uma família católica e estudei desde pequena em um colégio de irmãs. Terminei o segundo grau em 1991. Já no ano seguinte fui aprovada no vestibular e ingressei na Universidade, no curso de Odontologia. Aos 22 anos estava formada e logo comecei a exercer a profissão de Cirurgiã-Dentista.
No entanto, interiormente sentia que precisava dar um sentido mais profundo à vida. Havia um vazio no coração, naquela rotina profissional; além de um grande desejo de servir ao próximo com todas as forças. Então comecei a rezar, pedindo a Deus que me mostrasse o caminho e a forma através da qual eu poderia colocar a vida a serviço. No domingo seguinte ao início desta minha jornada de oração, o pároco comentou, no final da missa, que estavam precisando de novas catequistas. Senti-me profundamente tocada. Era a resposta às minhas orações. Era o chamado vocacional! E lá fui eu, já na segunda-feira cedo, colocar-me a disposição para ser catequista.
No entanto, essa primeira resposta me fez refletir e constatar minha pequenez e falta de preparo! Percebi que precisava de formação para a Catequese, para “ser” uma boa catequista. Então me inscrevi em todos os cursos de preparação e formação para catequistas oferecidos pela Diocese.
E hoje, depois de quase 30 anos de caminhada na Catequese, sigo em busca de formação, tanto para mim quanto para os cerca de 4000 catequistas daqui da Diocese de Ponta Grossa, porque entendo que nunca estamos prontos. A Catequese nos insere numa caminhada – é caminho para o discipulado!
E ao realizar esse exercício de rever todo o processo do meu chamado vocacional, só posso agradecer a Deus pela vocação, porque através da Catequese sinto que minha vida ganhou um novo sentido. Ser catequista me fez mergulhar na dimensão do serviço - a Deus e ao próximo! Finalizo essa questão com uma frase belíssima do Documento de Aparecida, que expressa bem o que sinto no coração, em relação à minha vocação de catequista:
"Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria" (Doc Ap, n. 29).
Qual foi o momento mais marcante da sua caminhada na catequese?
Foram tantos momentos marcantes, tantas crianças, adultos, famílias de catequizandos, catequistas, amigos, encontros e histórias partilhadas. Mas vou citar aqui um momento muito especial na minha caminhada catequética – a oportunidade de escrever um livro de formação para catequistas.
Em 2022 eu tive a graça de ver publicado, pela Editora Vozes, o livro "Caminhos... Para uma catequese querigmática e mistagógica”. Esse livro foi fruto de muitos anos de estudo e também de inúmeras formações realizadas junto aos catequistas da Diocese de Ponta Grossa, formações construídas “com” os catequistas, muito mais do que realizadas “para” os catequistas.
E quando a gente percebe que, através de um livro, o desejo de servir aos catequistas, por meio de propostas formativas simples, mas cheias de entusiasmo e do desejo de caminhar em unidade com os ensinamentos da Igreja, podem extrapolar as fronteiras de nosso pequeno mundo e chegar a outros catequistas desse imenso Brasil, o coração se enche de alegria! Foi realmente um momento marcante!
Como a missão catequética transformou sua vida pessoal e espiritual?
Acredito que essa pergunta já foi respondida na primeira questão, mas reforço aqui que a Catequese deu um novo sentido à minha vida pessoal e espiritual, porque me inseriu profundamente na dimensão do serviço. Através da Catequese aprendi, de forma muito concreta, a lição que Jesus deixou aos discípulos após o lava pés, quando Ele lhes perguntou:
“Entendeis o que vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque eu o sou. Se eu, o vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros” (cf. Jo 13, 12-15).
O serviço na Catequese é a forma através da qual Deus me chama a lavar os pés dos irmãos!
Que desafios e esperanças você enxerga na catequese hoje?
Os desafios presentes na Catequese hoje são inúmeros, mas destaco como um dos desafios centrais a necessidade de realizarmos a passagem de uma catequese de instrução para uma catequese que se coloque verdadeiramente a serviço da Iniciação à vida cristã, uma catequese compreendida como educação da fé, de forma integral, que leve ao amadurecimento humano pleno, amadurecimento esse que só o encontro com a pessoa de Jesus Cristo e o seu seguimento numa comunidade de fé podem proporcionar.
Outro desafio da catequese nos dias de hoje é sua frágil parceria com a família. Se por um lado, a família já não está conseguindo realizar plenamente seu papel de primeira responsável para educação da fé dos filhos, a catequese, por sua vez, não consegue estabelecer um diálogo profundo com as famílias, que verdadeiramente as envolva no processo da Iniciação à vida cristã.
No entanto, ao mesmo tempo que esses dois desafios apresentados podem nos atemorizar, não podemos parar no medo! Precisamos encarar cada desafio como oportunidade de crescimento e transformação. Estamos vivendo um ano jubilar – somos chamados a ser “Peregrinos de Esperança”. Cada catequista deve ser um peregrino de esperança, deve buscar a superação dos desafios, pois sabemos que Jesus caminha ao nosso lado e nunca nos deixará sozinhos. Ele nos enviou o Espírito Santo para nos impulsionar na missão, mesmo diante de ventos contrários.
Que mensagem deixaria aos catequistas neste dia tão especial?
Gosto muito de histórias, por isso vou iniciar a mensagem aos catequistas com a HISTÓRIA DO AMOR-PERFEITO:
Certa manhã um rei foi ao seu jardim e encontrou as plantas murchando e morrendo. Perguntou então ao carvalho, que ficava junto ao portão, o que significava aquilo. Descobriu que aquela árvore estava cansada de viver porque não era alta e elegante como o pinheiro.
O pinheiro, por sua vez, estava desconsolado porque não podia produzir uvas como a videira.
A videira ia desistir da vida porque não podia ficar retinha e nem produzir frutos delicados como o pessegueiro.
O gerânio estava desgastado porque não era alto e cheiroso como o lírio. E o mesmo acontecia em todo o jardim.
Mas quando o rei chegou perto do AMOR-PERFEITO, encontrou sua corola brilhante e erguida alegremente, como sempre.
- Muito bem, meu amor-perfeito, alegro-me de encontrar, no meio de tanto desânimo, uma florzinha corajosa. Você não parece nem um pouco desaminada – disse o rei.
- Não, não estou mesmo. Eu não sou de muita importância, sou pequenina, mas achei que, se no meu lugar o senhor quisesse um carvalho, um pinheiro, um pessegueiro ou um lírio, teria plantado um deles. Mas sabendo que o senhor queria um amor-perfeito, estou resolvido a ser o melhor amor-perfeito que posso.
Queridos catequistas, assim como somos, no lugar onde Deus nos colocou e diante das situações difíceis pelas quais podemos estar passando, estejamos resolvidos a ser o melhor “amor-perfeito” que pudermos, pois Deus está ao nosso lado, nos sustentando.
Se nos entregarmos a Ele sem reservas estaremos sempre serenos e firmes, em qualquer situação. Olhemos para Maria, aquela que permaneceu de pé, ao lado de Jesus na cruz e peçamos que ela sempre nos ensine “a fazer tudo que o Senhor nos disser”. FELIZ DIA DO CATEQUISTA!
Neste domingo, rendemos graças a Deus pela vida e missão de todos os catequistas que, com amor e perseverança, anunciam o Evangelho e formam novas gerações na fé. Que a luz de Cristo continue iluminando sua caminhada!




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