Entrevista especial em homenagem à vocação laical – 4º Domingo do Mês das Vocações
- Redação
- 22 de ago.
- 6 min de leitura
O Mês das Vocações nos leva, a cada domingo, a contemplar e valorizar uma forma diferente de seguir Jesus. No 4º Domingo, a Igreja celebra a vocação dos leigos e leigas, chamados a ser sal da terra e luz do mundo no coração da vida cotidiana. Seja no trabalho, na família ou no serviço pastoral, os leigos têm uma missão essencial: levar Cristo ao mundo com coragem, criatividade e amor.

Na catequese, essa vocação ganha uma dimensão ainda mais bonita. São milhares de leigos e leigas que, com generosidade, assumem a missão de formar discípulos e fortalecer a fé em nossas comunidades. Eles fazem isso não só com palavras, mas principalmente com o testemunho de vida — ensinando com a prática o que pregam com o coração.
Nesta entrevista, conversamos com um catequista leigo que vive sua fé no mundo e na Igreja com profundo compromisso. Seu testemunho nos lembra que evangelizar é uma forma de viver, e que a missão acontece no dia a dia, com tudo o que somos.
Entrevista Vocacional — Ser sal e luz como leigo na missão catequética
Conheça a entrevistada:

Virginia Feronato, 55 anos, é professora aposentada com formação em História e Ciências Sociais. Catequista há 35 anos, dedica sua vida à missão de evangelizar e formar discípulos de Cristo por meio da catequese.
Atuou de diversas maneiras nesse serviço: na catequese infanto-juvenil, preparando crianças e adolescentes para a Iniciação Cristã e para o serviço na liturgia; na evangelização por meio da música, conduzindo um coral pastoral em sua paróquia; e, mais recentemente, como formadora de catequistas, missão que abraçou com entusiasmo e dedicação.
Atualmente, coordena a Animação Bíblico-Catequética da Diocese de Apucarana (PR), integra a Equipe de Reflexão Catequética do Regional Sul 2 da CNBB e tem se dedicado à produção de subsídios catequéticos que auxiliam tanto catequizandos quanto catequistas em sua caminhada de fé.
Autora da Editora Vozes, participa das coleções Crescer em Comunhão e Catequizar Sempre, obras que refletem sua longa experiência pastoral e sua paixão pela catequese. Nos últimos anos, tem vivido com especial alegria a experiência da catequese com adultos, área em que vem atuando intensamente.
Com simplicidade e amor, Virginia costuma afirmar: “Quando o bichinho da Catequese nos pica, seremos catequistas para sempre.”
Como serve a essa missão...
Servi e sirvo nessa missão de muitas formas. Costumo dizer que quando o bichinho da Catequese nos pica, seremos catequistas para sempre. Meu maior tempo de atuação foi com a catequese infanto-juvenil: sendo catequista de iniciação cristã, preparando os catequizandos para servirem na liturgia; catequizando crianças através do canto pastoral com um coral maravilhoso na paróquia e já a bastante tempo tenho sido catequista de catequista. Estou, no momento, à frente da coordenação da Animação Bíblico-catequética da Diocese de Apucarana, integro a Equipe de reflexão catequética do Regional Sul 2 da CNBB e estou aprendendo muito depois que me dediquei à produção de subsídios catequéticos para catequizandos e catequistas. E devo destacar que tenho vivido momentos muito especiais na catequese com adultos onde tenho atuado nos últimos 4 anos.
“Evangelizo onde vivo, com o que sou, com tudo o que faço.”
O que significa para você ser leiga engajado na missão catequética da Igreja?
A vivência cristã das pessoas passa, obrigatoriamente, pelo testemunho dado por catequistas leigos, já que desde as primeiras comunidades cristãs a catequese é missão deles. O engajamento na catequese é abrir-se a um encontro pessoal com Jesus e por causa desse encontro mediar o encontro de Dele com tantas pessoas que desejam conhece-lo e segui-lo. No ano de 1989 ouvi uma belíssima explicação sobre o capítulo 12 da primeira carta de São Paulo aos Coríntios, compreendi que a fé não se tratava de ir à Igreja, mas sim de “ser Igreja”. Por Jesus Cristo somos membros de um mesmo corpo e esse corpo, para funcionar em harmonia, precisa que cada uma abrace sua missão. Apesar de ser de uma família muito católica eu andava bem desligada da vida de comunidade e tecendo muitas críticas à Igreja. Nessa época aprendi também que a Igreja é santa e pecadora e que, se quisesse uma Igreja melhor, eu tinha que ser melhor e ajudar minha comunidade a ser melhor também. Entendi que era momento de responder ao chamado de Jesus para segui-lo e para anunciar seu evangelho por onde quer que eu fosse. Entre as tantas pastorais que temos na Igreja me encantei logo pela catequese e pela liturgia.
Como percebe a importância do leigo na transmissão da fé hoje?
Se creio que a comunidade é o corpo de Cristo posso me atrever a imaginar o leigo como o rosto da Igreja, ou talvez as mãos. O rosto é no corpo o que primeiro expressa a identidade de uma pessoa, suas emoções, suas tenções. Um sorriso acolhedor é um convite à proximidade, um rosto carrancudo é um aviso de “não se aproxime”. A maioria das pessoas se aproximam Jesus e da comunidade pelo testemunho, pelo incentivo, pelo convite ou pelo anúncio feito por um leigo. Suas mãos estão mais próximas para guiar e acompanhar os buscam a fé.
Que papel a catequese teve na sua formação pessoal e espiritual?
Ai, ai! Como expressar em palavras algo tão grandioso? Depois de tanto tempo na catequese posso dizer que a maior descoberta foi que a catequese fez de mim uma catequizanda. Meus colegas devem ter percebido isso também, pois a cada vez que temos que preparar um encontro nos damos conta do quanto precisamos de mais estudo bíblico, de mais oração, de mais reflexão, de mais celebração, de mais contemplação e adoração e de oração novamente, formação, catecismo, leitura orante... não paramos nunca de nos catequizar. Porém, o que constatamos, quase sempre admirados, é o quanto precisamos do abraço misericordioso do Pai para as nossas limitações, o quanto necessitamos do amor incondicional do Filho que não nos deixa fraquejar diante dos desafios e do quanto precisamos do sopro do Espírito Santo e seus dons para nos conduzir na missão de educar na fé. Sem contar o quanto precisamos da ternura materna de Maria, da inspiração dos santos e, especialmente, de todo aprendizado que só o contato e a intimidade com nossos catequizandos e seus familiares podem proporcionar.
Como você se sente chamado a evangelizar no mundo em que vive?
Evangelizar no mundo atual é desafiador. Tem tantas mudanças e novidades que a gente nem dá conta de acompanhar, mas já dizia o salmista: “o Senhor é minha luz e minha salvação de quem terei medo? O Senhor é o refúgio da minha vida: diante de quem tremerei? ” (Sl27, 1). Desde que me engajei como leiga em minha comunidade percebi na evangelização a maneira mais eficaz de transformar o mundo num lugar melhor. O projeto do Reino de Deus é perfeito e eu acredito nele, por isso, apresentar Jesus às pessoas, ajuda-las a sentir seu amor e sua misericórdia é plantar a esperança em seus corações. Eu me sinto chamada a continuar catequizando com palavras, textos, palestras, encontros catequéticos, com os silêncios necessários, com o testemunho dos acertos e com o aprendizado dos erros. No próximo dia 31 de agosto, vou ser instituída ao Ministério de Catequista e isso redobra o compromisso com a missão, com a formação e com o amor ao evangelho. Não importa quanto tempo temos de experiência: o coração treme de medo, o choro embarga a voz e a gente se agarra na fé que temos para responder “sim”. Sim eu vou evangelizar na catequese.
Qual conselho daria a quem está começando como catequista?
A oração precede toda a atividade evangelizadora. Dedique-se a ela todos os dias em todos os momentos possíveis. Fale com Deus e escute-O acima de tudo. Pratique a leitura orante da Palavra. Leia um texto bíblico todos os dias ou acompanhe a liturgia do dia. Torne-se, com a graça de Deus, sua/seu melhor catequizando/a, sabendo que a primeira pessoa a ser evangelizada será você mesmo. Faça memória, todos os dias, de seu encontro pessoal com Cristo, daquele momento em que você se sentiu tocado por Ele e sua vida ganhou um novo sentido. Só pode mediar o encontro de um catequizando com Jesus Cristo quem um dia se encontrou com Ele. A formação é fundamental para um bom catequista, portanto, participe de todos os momentos formativos oferecidos por sua comunidade. Empenhe-se em conhecer a fundo a Iniciação Cristã de Inspiração Catecumenal. Seja catequista da liturgia, da oração, da eucaristia, da comunidade. Não caminhe sozinho, sempre haverá um catequista com quem você vai aprender e um para você ensinar. Prepare seu encontro como quem prepara uma obra de arte. Pratique aquilo que você anuncia, o seu testemunho é seu maior legado.
Confie no Deus que te chamou e te capacita para a missão de ser catequista.
Neste domingo, elevamos nossa gratidão a todos os leigos e leigas que fazem da catequese um verdadeiro serviço de amor e fé. Que nunca lhes falte coragem, entusiasmo e esperança para seguir anunciando o Evangelho com alegria!




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