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O Tempo da Quaresma

Redação

Ainda que não saibamos exatamente as origens do tempo da Quaresma, é certo que no século IV existia um tempo preparatório para a Páscoa, que se ligava ao imediato período que a precedia, e que, desde o século II, era marcado pela penitência e pelo jejum.


Esse tempo consistia em uma quarentena (significado bíblico) e ela vai desenvolvendo-se a partir da prática penitencial que preparava os pecadores para a reconciliação na manhã do Sábado Santo e, sobretudo, da necessidade do catecumenato, que preparava os catecúmenos para o Batismo na noite pascal. No início a quaresma foi, portanto, de caráter batismal e catequético (aprofundamento da Palavra). Mais tarde predomina o caráter penitencial (abstinência, jejum e penitência).


O Vaticano II e sua reforma litúrgica organiza a quaresma, fixando-a da Quarta-feira de Cinzas até a Quinta-feira Santa (antes da Missa da Ceia do Senhor).


Para entender a quaresma é preciso partir do Mistério Pascal de Cristo. Nele, Cristo doa-se plenamente a nós, lavando-nos com seu sangue, purificando-nos com sua graça, santificando-nos com seu amor e tornando-nos agradáveis a Deus, participantes da sua entrega total ao Pai. Nosso jejum, nossa penitência, nossa oração, nossa esmola, são sinais da nossa participação no mistério de Cristo.


A espiritualidade quaresmal está marcada por três elementos fundamentais:


Caridade – se praticamos obras de caridade, se damos esmolas, não é para demonstração exterior da nossa bondade, mas sempre participação sacramental na benignidade de Deus, que sendo rico se fez pobre em Cristo, por amor de cada um, e nos cumulou de graça sobre graça, dando-nos a si próprio (insuperável dom da sua própria vida divina que nos é participado no Mistério Pascal). É entendida fundamentalmente como misericórdia aos necessitados e reconciliação com os irmãos.


Oração – se rezamos é por meio de Cristo que o fazemos. É Ele que reza em nós pelo Espírito Santo. É Ele quem ensina e faz a perfeita oração: fazer a vontade do Pai, oferecer integralmente o coração sem reservas e condicionamentos, cumprir com a liberdade do amor a vontade do Pai, sem dela afastar-se, mesmo quando ela nos leva onde não queremos e onde aparentemente não suportamos.


Penitência (jejum) – se fazemos penitência não é para angariar méritos e comprar a graça, que é impagável, mas sim para participarmos sacramentalmente do sofrimento daquele que, sendo inocente, se fez pecado, e, por isso foi castigado, punido e abandonado por Deus, provando a solidão da morte.


Na penitência, que é antes de tudo solidariedade, participamos do sofrimento de Cristo e da paixão do mundo, e experimentamos a doçura escondida e misteriosa do sofrimento de Cristo. Assim somos convidados, pela liturgia da Palavra dos domingos, a reviver as grandes etapas da marcha da humanidade até a Páscoa de Cristo. Vejamos uma síntese da liturgia dos domingos segundo Pablo Argárate:


▪ Primeiro domingo: teremos as alianças originais (a queda, a aliança com Noé, a profissão de fé do povo eleito) – tentação de Jesus.

▪ Segundo domingo: centrado em Abraão (a vocação de Abraão, o sacrifício de Isaac, a aliança de Deus com Abraão) – transfiguração de Jesus. 26 Cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo, festa da Igreja: o ano litúrgico. São Paulo: Paulinas, 1994, p. 282-283. 27 Cf. ARGÁRATE, Pablo. A Igreja celebra Jesus Cristo. São Paulo: Paulus, 1997, p.173-174. 123

▪ Terceiro domingo: centrado em Moisés (Moisés golpeia a rocha, a Lei dada a Moisés, Deus revela seu nome a Moisés).

▪ Quarto domingo: centrado no povo de Deus que vive na terra santa (Davi, o exílio, e o retorno, a Páscoa da terra prometida) – (A) cura do cego de nascença; (B) encontro de Jesus com Nicodemos: Deus enviou seu Filho ao mundo para que o mundo seja salvo por ele; (C) o Pai espera a volta do filho.

▪ Quinto domingo: centrado nos profetas (Ezequiel, Jeremias e Isaías) – (A) Ressurreição de Lázaro; (B) se o grão de trigo cair na terra e morrer, produzirá muitos frutos; (C) Quem não tiver pecado atire a primeira pedra.

▪ Os evangelhos nos convidam à conversão, ao revelar a misericórdia de Deus.

▪ É importante observar que o Lecionário nos propõe três itinerários: uma quaresma batismal (ano A); uma quaresma cristocêntrica (ano B); uma quaresma penitencial (ano C).


E então chegaremos à Páscoa. Entraremos com Jesus em Jerusalém. Lembraremos dos nossos “hosanas” e dos nossos gritos de “crucifica-o”. Seremos recebidos no aconchego do seu cenáculo e mergulharemos na noite de sua agonia, provaremos seu abandono e recordaremos nossa covardia.


E depois, ao fim do terceiro dia, escavaremos na rocha do sepulcro e beberemos da água da vida e a luz da ressurreição nos recriará “neste dia que o Senhor fez para nós”.


A cor litúrgica deste tempo é o roxo, um convite à conversão, à penitência e à fraternidade. No 4º domingo pode-se usar o rosa por causa da antífona de entrada, que convida: “Alegra-te, Jerusalém...”, é também chamado domingo Laetare (alegria).


 


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