Redescobrir a arte da oração: um diálogo profundo e livre entre o ser humano e Deus
- Redação
- há 3 horas
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Toda iniciação à oração não tem por objetivo outra coisa senão nos ajudar a tomar consciência dessa linfa vital, fazendo-nos experimentar o dom que recebemos, do qual precisamos nos tornar responsáveis e partícipes.
Para permitir a essa oração já presente em nós o florescer até a superfície da consciência, pulverizando todas as nossas faculdades e fazendo vibrar o corpo ao ritmo dos seus desejos, devemos, acima de tudo, entender melhor o que é o coração e quais dificuldades se põem para nós no alcançar as suas misteriosas profundidades.
Lendo os salmos da Bíblia, descobrimos que o coração é aquela área de fronteira entre nós e Deus onde temos a possibilidade de sermos percebidos por aquilo que somos: “Senhor, tu me sondaste e me conheces e: sabes quando me sento e quando me levanto... Sonda-me, ó Deus, e conhece meu coração! Examina-me, e conhece minhas preocupações!” (Sl 139,1-2.23). É a sede em que se repousa o nosso desejo profundo, que Deus não vê a hora de poder satisfazer (cf. Sl 21,2-3).
É a fonte de todos os atos nos quais nós temos a possibilidade de manifestarmo-nos como pessoas. O coração, porém, tem necessidade de ser “circunciso”, cortado e entregue a seu destino de amor: “O Senhor teu Deus circuncidará teu coração e o coração de teus descendentes a, para amares ao Senhor teu Deus de todo o coração e com toda a alma e para que vivas” (Dt 30,6). Realmente, nós também podemos nos se parar dessa identidade profunda, escorregando na hipocrisia, como os profetas assinalavam aos nossos pais nos tempos antigos: “Porque este povo se apro xima apenas com sua boca e louva-me apenas com seus lábios, enquanto seu coração está longe de mim” (Is 29,13). Nesse distanciamento de Deus, o coração se endurece, até se tornar insensível, de pedra. Resta esperar por um processo de cura que o faça voltar a bater no ritmo do amor.
Derramarei sobre vós água pura e sereis purificados. Eu vos purificarei de todas as impurezas e de todos os ídolos. Eu vos darei um coração novo e porei em vós um espírito novo. Remo verei de vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Porei em vós o meu espírito (Ez 36,25-27).
A vinda de Cristo na carne de nossa humanidade nos restituiu a esperança de que neste lugar ninguém deve mais sentir-se incomodado pelo sentimento de culpa.
É assim que conheceremos que somos da ver dade, e diante dele tranquilizaremos o nosso coração. Pois se o nosso coração nos acusa, maior do que o nosso coração é Deus que sabe tudo. Caríssimos, se o coração não nos acusa, temos confiança em Deus (1Jo 3,19-21).
O esforço maior na oração, depois que Deus se revelou para o homem como amor radical, não consiste mais no subir a um nível alto e ideal para poder encontrá-lo, mas, sim, no aceitar partir e partir nova mente sempre do ponto real em que a nossa vida se encontra. Um ensinamento presente na Lei, retoma do várias vezes por Jesus, diz: “Amarás o SENHOR teu Deus com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças” (Dt 6,5). Segundo uma diferente e possível tradução do texto, o mandamento poderia ressoar assim: “Amarás o Senhor, teu Deus, em todo o coração, em toda a sua alma e em todas as forças”. A diferença, sutil, gera um novo significado. A relação de amor com Deus, que se aprofunda também por meio da oração, não é concedida somente quando todo o nosso coração é puro e voltado a Ele. Em suas contradições e em suas sombras, o coração é e continua a ser o único espaço de intimidade possível entre nós e Deus.
Se nos fosse permitido criar uma imagem, talvez um pouco ousada, poderíamos definir o coração como um “banco” colocado nas profundezas do nosso ser sobre o qual sabemos que podemos sempre sentar, a fim de descobrir a nosso lado a presença invisível e respeitosa de um Deus jamais distante ou estranho ao mistério da nossa vida. Disso estamos certos, já que Deus, na cruz de Jesus, nos mostrou como a nossa treva não pode jamais tornar escuridão a luz de respeito e de misericórdia que Ele acendeu em nós. ,
Encaminhar-se e descer até o coração é, pois, o fim último de cada caminho e de qualquer técnica de oração. O que está em jogo é valorosíssimo e não convém ter pressa alguma de ver resultados fáceis e imediatos. Trata-se de entrar num grande combate para tentar vencer a batalha mais crucial, aquela contra o nosso hábito de nos considerarmos pobres e sós, quando nos sabemos agora imersos em um mistério de comunhão de amor.
Ao vencedor darei do maná escondido e lhe darei uma pedrinha branca na qual está escrito um nome novo que ninguém conhece, senão aquele que o recebe (Ap 2,17).
Descobrir quem somos aos olhos de Deus e tornarmo-nos felizes intérpretes dessa inesperada condição é o ponto final a que nos quer conduzir o caminho da oração.
Conheça a obra: Iniciação à oração
Neste livro, Frei Roberto Pasolini nos convida a redescobrir a arte da oração, um diálogo profundo e livre entre o ser humano e Deus. Com uma linguagem clara e reflexiva, ele explo ra a variedade de palavras, gestos e momentos de silêncio que moldam essa comunicação íntima. Para aqueles que já experimentaram a oração ou para os que desejam aprender a vivê-la com autenticidade, as páginas desta obra oferecem uma introdução sensível e essencial.
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