Frei Alberto Beckhauser, OFM
A Cruz está plantada em toda parte. Encontramo-la nas igrejas, nas casas, nas praças, em repartições públicas, à beira das estradas e nos cimos das montanhas. Com ela deparamos desde o nascer até ao pôr do sol; do nascimento até a morte. Caminha conosco em horas de alegria e de tristeza. Junto ao batistério por ela fomos marcados e a mortalha é por ela encimada. Encontramo-la na natureza e na arte. Não apenas a encontramos; ela está e cresce em cada homem; ela nos reveste.
Contudo, desde que Jesus Cristo morreu suspenso a um madeiro, abraçando em seu imenso amor toda a humanidade, as cruzes de todos os tempos e lugares foram iluminadas. Daquele momento a cruz tornou-se esperança dos homens. A árvore da morte do paraíso transformou-se em árvore da Vida. A figura da serpente levantada no deserto transformou-se em realidade. Jesus Cristo venceu a antiga serpente, transformando a cruz em troféu de vitória.
Assim, aos poucos a cruz foi sendo tomada como o sinal do cristão. Os cristãos dos primeiros séculos começaram a identificar a cruz de Cristo em toda parte: no martelo, no machado, na charrua, nas iniciais da palavra Cristo em Grego (XP), no X, no Y, na âncora, no báculo, no candelabro, na palma, no T, nas plantas e na própria figura da pessoa humana.
Primeiramente se usava simplesmente o símbolo da cruz, sem o corpo de Jesus Cristo afixado. Portanto, a cruz e não o crucifixo.
Era natural que a cruz como sinal do cristão, de sua fé na morte redentora de Cristo, muito cedo entrasse também no uso litúrgico. Assim temos hoje uma presença muito frequente da cruz nas mais diversas formas de expressão.
1. O sinal da cruz
Não há quase reunião de assembleia litúrgica que não comece com o sinal da cruz. Enquanto tocamos com a palma da mão direita a fronte, o peito, o ombro esquerdo e o ombro direito, dizemos: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Declaramos que todo o nosso pensamento, nossa vontade e a nossa ação, representados pela fronte, pelo peito e pelos braços, à luz da morte de Cristo, se desenvolvem em nome da Santíssima Trindade. Todo o nosso ser está mergulhado no mistério da Trindade através da cruz redentora de Cristo.
2. A persignação
Constitui uma forma mais solene, ligada à proclamação do Santo Evangelho. O Sacerdote, depois de saudar o povo, continua: Evangelho de Jesus Cristo segundo N., fazendo com o polegar o sinal da cruz sobre o livro e sobre si mesmo, na fronte, na boca e no peito. Qual o sentido mais profundo desta forma de fazer o sinal da cruz? Pedimos a Deus que a força da mensagem de Cristo penetre a nossa mente, a nossa palavra e a nossa vida. Que Ele ilumine a nossa inteligência para compreendermos bem sua mensagem; que possamos professar a nossa fé, por nossas palavras e agir de acordo com ela.
3. Traçar o sinal da cruz
É muito frequente na Liturgia o gesto de traçar o sinal da cruz sobre pessoas, objetos e elementos. Muitas vezes o gesto vem acompanhado da invocação das três pessoas da Santíssima Trindade; outras vezes é acompanhado por fórmulas especiais que dão sentido ao gesto; há ocasiões em que é traçado em silêncio. É sempre sinal de bênção e consagração. Pensamos aqui na consagração das oferendas durante a Missa, na bênção final que encerra quase todas as assembleias litúrgicas; na bênção dada a pessoas, na bênção de elementos como a água-benta, o sal, objetos de devoção; na bênção de objetos como as alianças, os paramentos, imagens, terços, etc. A faculdade de abençoar, traçando o sinal da cruz sobre pessoas e objetos, é reservada aos sacerdotes e ao diácono quando ocorre dentro de sua função.
Existem ainda dois outros modos de dar a bênção, usando o sinal da cruz. A primeira consiste em traçar com a cruz ou o crucifixo ou ainda com o Santíssimo ou alguma relíquia o sinal da cruz sobre pessoas, abençoando-as. Gesto que é realizado também com o incenso. Segundo, traçar o sinal da cruz com o polegar sobre a fronte de uma pessoa ou sobre objetos. Assim, temos no Batismo, após o acolhimento e o diálogo inicial, um gesto que poderá ser muito valorizado: o primeiro grande encontro da criança com a cruz de Cristo. O Celebrante diz: “N., nós te recebemos com grande alegria na comunidade cristã. O nosso sinal é a cruz de Cristo. Por isso, eu e teus pais (e padrinhos) te marcamos com o sinal do Cristo Salvador”. Em silêncio, o Celebrante e os pais (e padrinhos) traçam o sinal da cruz na fronte da criança. É sinal de consagração, de resposta de Deus através da Igreja, representada pelo Celebrante, os pais e os padrinhos em favor da criança. Pela fé da Igreja Deus está atingindo esta criança pela salvação em Cristo. Por isso, os filhos podem pedir a bênção aos pais e padrinhos e estes estão autorizados a abençoar em nome de Deus. Como fazê-lo? Traçando o sinal da cruz na fronte dos filhos ou dos afilhados.
Quando o Bispo administra o Sacramento da Crisma, tendo mergulhado o polegar no óleo do crisma, marca o confirmando na fronte com o sinal da cruz, dizendo: “N., recebe, por este sinal, o Dom do Espírito Santo”.
Altares e cálices representam os recipientes máximos da bênção: o próprio Cristo vivo presente na Eucaristia. Como eles, o coração humano deverá estar ungido da unção batismal para constituir um receptáculo digno do próprio Deus.
Além do sinal da cruz a própria cruz encontra-se frequentemente nas celebrações litúrgicas. É costume antigo a presença de uma cruz junto ao altar. A Instrução Geral sobre o Missal Romano fala da cruz nos seguintes termos: “Haja também sobre o altar ou perto dele uma cruz que seja bem visível para a assembleia reunida” (n. 270). Portanto, pede-se uma cruz. Não precisa ser crucifixo. Bem visível para os fiéis; não só para o Celebrante. Sobre o altar ou perto dele. Não precisa estar sobre o altar. O ideal seria a cruz processional da qual fala o n. 82,b: Que à frente da procissão de entrada vá um ministro com a cruz, ladeado de dois ministros com velas acesas.
A presença tão frequente da cruz nos faz lembrar continuamente que toda a Liturgia não é outra coisa do que a evocação do mistério pascal de Cristo, que por sua morte e ressurreição nos traz nova vida. É pela cruz que o povo de Deus, a exemplo de Cristo, chega à ressurreição.
A inspiração e a arte desenharam a cruz de Cristo de muitos modos. Lembro a cruz romana; a cruz de Jerusalém, a cruz gamada, o Tau da tradição franciscana, a cruz de Santo André, a cruz de Lorena. Se as formas da cruz material já são tão variegadas, infindas são as cruzes humanas, pois cada um tem a sua para carregar no seguimento de Cristo. Todas elas, porém, encontram-se na cruz de Cristo, na qual todas as demais poderão ser glorificadas.
Trecho da obra: Símbolos Litúrgicos
Comments