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  • Redação

Um convite: acesse o Bem-aventurado em você

Em marcha os humildes, porque eles herdarão a terra

Jean-Yves Leloup


Praéis em grego é tradução do hebraico anaw, anawin, que designa ao mesmo tempo os pobres, os humildes, os justos; o restinho daqueles que permanecem fiéis, apesar das provações, à Torá e ao Espírito de YHWH.


Permanecer ligado à fonte e ao princípio de todas as coisas é ser herdeiro da terra, é receber todas as coisas como um dom (cf. a Bem-aventurança dos pobres em espírito), é responder também ao nome de Adão, o argiloso, o terroso (de adamah, a terra ocre); ser humilde é ser humano – humildade e humanidade têm a mesma raiz, humus; é ser ligado à terra para abri-la e oferecê-la ao céu, é aceitar seus limites, sua finitude para abri-la ou oferecê-la ao Infinito.


“Caminha suavemente sobre a terra, ela é sagrada”, disse-me o velho índio hopi. Não há terra santa, há apenas terra santificada pelos passos daqueles que sobre ela caminham com atenção e com amor.


A doçura, a suavidade e a mansidão são virtudes dos fortes; Yeshua não disse bem-aventurados os molengas, mas bem-aventurados os mansos, os doces, os suaves, pois a suavidade, a mansidão e a doçura supõem domínio sobre si mesmo.


Abrir uma porta com suavidade permite que ela ceda, ao passo que ela resiste ao violento e ao irritado. A terra não pode se dar àqueles que a exploram e a consomem; a aliança foi rompida, ela só se dará novamente aos suaves e mansos que a respeitam e querem fazer dela um jardim (pardes, paraíso), e não um campo de ruínas e detritos ou um lixão. Isso supõe que a consideramos como algo vivo, também desejosa do bem-estar de todos os seres vivos. O homem não está aqui para dominá-la ou explorá-la, mas para cultivá-la e fazer dela um jardim.


Na biblioteca hebraica (Bíblia) há dois homens reputados pela sua doçura, suavidade, mansidão e humildade: Moshe e Yeshua. Os maiores e mais fortes paradoxalmente são os mais humildes e os mais mansos.


No Livro do Apocalipse, é o cordeiro, símbolo da força invencível e vulnerável do humilde amor, que triunfará sobre o dragão, símbolo da violência e da devastação que domina ainda durante um tempo, um pouco de tempo, povos e nações.


O Evangelho de Mateus guarda a memória das fortes palavras de Yeshua, que fala como a Sabedoria, a Shekinah criadora do Primeiro Testamento:


Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o

fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre

vós e recebei minha doutrina, porque eu sou

manso e humilde de coração, e achareis o repouso

para as vossas almas. Porque meu jugo é suave

e meu peso é leve14.


A mansidão e a humildade são o remédio (pharmakon) para vários males, elas nos libertam desses dois venenos que são a inflação e a violência, o orgulho e a cólera que corroem os fígados e destroem as relações humanas. Yeshua diz: “Aprendei comigo, colocai-vos em minha escola”; por trás desse eu é preciso escutar o ego eimi, o Eu sou da própria presença de Deus.


O fundo do ser é doce e suave; agir a partir desse fundo de calma que está em cada um de nós ajudará a termos ações justas e harmoniosas que os antigos chamavam de justiça.


O Bem-aventurado em nós é doce, manso e humilde de coração (praus eimi kai tapeinos tè kardia), ele é o lugar do repouso (anapausis) das nossas almas (psique), e, como sabemos, a alma apaziguada é o espelho de Deus.

 

O que impede ou detém em nós o movimento da Vida que se dá, o Reino de Deus, o Vivente? Geralmente, a emoção, o medo, a angústia (angustia em latim quer dizer: “garganta apertada, estreitada”). As palavras de Yeshua dirigem-se, assim, aos sopros curtos, àqueles a quem falta a vitalidade, os emotivos, os angustiados, todos aqueles que têm medo de viver e de amar. Em marcha! A caminho! Não tenha medo, não se instale, não se acomode em suas emoções, seus medos, suas angústias – são apenas provações, experiências a serem atravessadas. Não se permita deter pelos obstáculos; pelo contrário, que esses sejam ocasiões (kairós) para estimular sua força, sua consciência e seu desejo. “O céu e o seu reino estão em vós”; o céu, ou seja, o espaço que contém todas as coisas; o Infinito está em vós. Deixai-o reinar, brilhar. (Da obra)


O autor:


Jean-Yves Leloup: doutor em Psicologia, Filosofia e Teologia; doutor honoris causa pela Universidade de Colombo (Sri Lanka); padre da Igreja Ortodoxa; ex-diretor do Centro Internacional Saint-Baume; tradutor de diversos textos bíblicos a partir do grego e do aramaico; membro da Organização das Tradições Unidas; membro do Ciret (Centre International de Recherches et Études Transdisciplinaires); fundador do Colégio Internacional dos Terapeutas; cofundador da Unipaz, junto com Pierre Weil e Monique-Thoenig; conferencista na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá e na América do Sul em diversas universidades e institutos de pesquisa em Antropologia Fundamental; autor de dezenas de obras publicadas em diversos idiomas sobre a tradição cristã, bíblica e monacal.


Adquira o livro no site: www.livrariavozes.com.br

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