A reconciliação com Deus na Igreja
Esta palavra libertadora de Jesus transcende os limites da experiência humana de tal maneira que a aceitação retardada do texto talvez expresse a dificuldade que a comunidade cristã sentiu de compenetrar-se de seu sentido real e saborear profundamente seu admirável valor para a vida em liberdade dos que creem em Cristo. Além de dar uma aula de delicadeza discreta que trata de tais coisas em particular, sem público presente, Jesus põe em xeque toda uma sociedade que se tenta confirmar a si mesma na justiça pa marginalização e castigo daqueles que transgridem o sistema normativo dominante. Condenada ao silêncio pela voz da lei, a mulher torna a falar e viver, porque Cristo cria para ela um espaço novo de vida e novo desejo de caminhar para a frente, sem olhar para trás e sem correr o risco de repetir a tragédia de Ló. À culpa da mulher, suas explicações possíveis, sua confissão ou defesa são eventualidades humanas que, diante da palavra terminante do perdão, nem entram mais no mérito da questão. Quem está morta pela lei, revive pelo perdão de Deus.
Sobre a absolvição
A palavra do ministro eclesiástico “eu te absolvo” é a palavra autorizada e o sinal eficiente do perdão de Deus pela mediação da Igreja. Pecadores pela sua infidelidade responsável às promessas batismais, os penitentes são justificados mais uma vez em sua vida gratuitamente pela graça de Deus, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus. Em sua paciência, tolerando os pecados anteriores de seus filhos adotivos, Deus manifesta neste momento sua justiça pelo perdão, porque Jesus Cristo, vítima de expiação pelo seu sangue, oferecendo uma só vez seu sacrifício, anulou e destruiu o documento que nos acusa e fatalmente condena, pregando-o na cruz (cf. Rm 3,21-26; Hb 10,12; 1Pd 2,21-25; Cl 2,12-14). Na consciência viva da comunidade eclesial, pela força do Espírito, os muitos textos do Novo Testamento sobre a justificação, a redenção, a graça, lançam a luz do grato reconhecimento na fé não só sobre o batismo em água viva (cf. Jo 4,10-14), mas esta luz se estende igualmente sobre o batismo laborioso, o Sacramento da Reconciliação.
Trecho do livro: "O Ministério da Reconciliação:
uma ética profissional para confessores", publicado pela Editora Vozes.
Sobre o livro:
A crise do Sacramento da Penitência tem renovado a reflexão teológica e criado novas maneiras de celebrar a festa da reconciliação: a confissão. Na práxis eclesial, que revalida os instrumentos de perdão e da paz que estão à disposição dos fiéis, o ministro ou confessor desempenha papel importante de mediador da nova vida. É ele o “pivô” deste livro.
O autor
Frei Bernardino Leers sacerdote franciscano, nasceu na Holanda. Após os estudos de Filosofia e Teologia, cursou Psicologia na Universidade de Nijmegen e Teologia Moral em Roma. Feito o doutorado em Teologia, começou a lecionar, em 1953, no Teologado
dos Padres Franciscanos em Divinópolis, MG. É professor de Teologia Moral no ICTF da Universidade Católica e no Instituto Santo Inácio de Belo Horizonte e de Ética no Inesp de Divinópolis. Ao lado do magistério, sempre trabalhou na pastoral, principalmente entre o povo rural. Em muitos lugares deu cursos e conferências e publicou vários artigos e livros sobre catequese, pastoral e moral.
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