Por Pe. Almerindo da Silveira Barbosa
20º Domingo do Tempo Comum | Lc 12,49-53
Jesus, no Evangelho deste domingo, parece ser bem diferente do que estamos acostumados a ver, um Jesus sereno, acolhedor, com palavras que alimentam esperança, serenidade e paz na vida das pessoas. Vemos o contrário, um Jesus radical, decidido, que veio para dividir as pessoas. Porém, através de uma reflexão mais apurada do texto bíblico veremos que não é isso que a Palavra quer nos ensinar
O fogo que Jesus veio trazer para a terra é uma chama que queima e, por isso, nos desestabiliza, e nos tira da passividade. A paz a que Jesus se refere aqui é aquela paz da acomodação e da aceitação passiva de todas as coisas e o conformismo com situações de pecado e de todas as desgraças que possam nos deixar paralisados e inertes.
Jesus veio para trazer o fogo do seu Espírito. É este fogo aceso, dentro de nós, que nos fazem viver animados, corajosos e dispostos a caminhar, lutando, dia a dia, para ver acontecer o Reino de Deus. Infelizmente muitas pessoas, ainda, vivem na frieza, na acomodação, na ignorância e na indiferença. Muitas pessoas acham a Palavra de Deus bonita, mas deixam-na de lado e, por isso, não a compreendem.
Com relação a divisão na mesma família, de que fala o Evangelho, é no sentido de que, diante do fogo que Jesus veio trazer e das opções que muitos preferem continuar, sem a chama desse fogo, uns se voltarão contra os outros, acontecendo, assim as divergências. É somente o fogo do Espirito Santo, quando mantido aceso dentro de cada um de nós, que nos faz viver as diferenças, em harmonia e paz. Sem ele será sempre uma vida de divisão.
Ao dizer que não veio trazer paz sobre a terra, Jesus tem consciência de que o seu trabalho ia ser causa de divisão entre aqueles que queriam viver na inércia e os que queriam lutar por um mundo novo e melhor.
O fogo da Palavra de Jesus não é para os desanimados, que desejam continuar do mesmo jeito, no marasmo da vida e no desânimo. O fogo de Jesus é o do Espírito Santo, que se recebe na graça do Batismo e faz com que a pessoa viva de um jeito diferente. Mesmo estando no mundo não compactua com as realidades terrestres, mas sabe que os valores maiores vêm do Reino, pelo projeto apresentado por Jesus Cristo.
A paz de Jesus não se confunde com a aquela paz que qualquer império e poder político se esforçam para acontecer. Esta é só uma tranquilidade institucional. A paz de Jesus é fogo purificador, que faz aquecer os corações do que se aderem a ela.
Que o fogo da paz de Jesus aqueça nossos corações, cada vez mais. O Batismo que recebemos acende esse fogo em nossa vida. Não deixemos ele se apagar, pelo contrário, com nossos gestos e atitudes transformadoras, façamos com que se cresça cada vez mais.
Pe. Almerindo da Silveira Barbosa, formado em Filosofia e Teologia, pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais, o colunista também possui especialização em Ensino Religioso, pela Faculdade do Noroeste de Minas (FINOM), e em Teologia Pastoral, realizada na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Pe. Almerindo é coautor da coleção “Deus Conosco” e do livro Quem é esse Jesus e autor da obra A missa – Conhecer para viver, também publicado pela Editora Vozes.
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