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Rezar e meditar os textos bíblicos

Redação

Com a renovação conciliar, a Igreja cuidadosamente selecionou um conjunto de textos bíblicos para serem lidos e refletidos diariamente ao longo do Ano Litúrgico, ajudando os fiéis a redescobrirem o valor e a importância dos textos sagrados. Dessa maneira, a Igreja quer alimentar a todos nós com a Palavra de Deus, fonte de revelação de todo o mistério de nossa salvação.


As leituras do Antigo Testamento narram a experiência de fé dos homens e mulheres criados por Deus à sua imagem e semelhança. Apresentam a insistente iniciativa do Pai em vir ao encontro da humanidade para salvá-la. Trata-se de textos que mostram o testemunho dos profetas que exortavam os homens e mulheres à conversão e profetizavam a vinda do messias. O Novo Testamento, por sua vez, revela o cumprimento da promessa, narrando o nascimento do Salvador, sua vida pública e ensinamentos, sua morte e ressurreição e o mandato de ir e anunciar a todo o povo a Palavra da Vida (cf. Mt 28,19). Ainda, toda missão dos discípulos que, cumprindo fielmente a missão deixada por Cristo, edificaram a Igreja, corpo do Senhor. Dessa maneira, o Novo Testamento se torna a chave de leitura para toda a Bíblia.


Assim, ler e meditar diariamente os textos bíblicos nos faz ser Igreja hoje, ajudando-nos a ser fiéis ao que Jesus viveu e nos ensinou, constituindo-nos verdadeiramente seus discípulos missionários. O Ano Litúrgico, portanto, com seu elenco de leituras, torna-se fonte inesgotável de encontro com o Senhor. Todos os dias, ao nos dispormos em nos colocar em oração, meditando os textos bíblicos indicados, sobretudo por meio do antiquíssimo método da lectio divina sistematizado pelo monge Guido, no ano 1150, abrimo-nos à possibilidade de crescer e amadurecer na fé, confrontando nossa vida à vida de Jesus, aos seus mandamentos e ensinamentos.


A lectio divina se torna um poderoso instrumento que, herdado por nós, nos ajudará a compreender os textos sagrados e a experimentar o Verbo que se fez carne e armou sua tenda entre nós (cf. Jo 1,14). O método da lectio divina consiste em quatro passos: leitura, oração, meditação e contemplação. Assim sintetiza Guido o Cartuxo:


A leitura procura a doçura da vida bem-aventurada; a

meditação a encontra; a oração a pede; e a contemplação

a experimenta. A leitura, de certo modo, leva à boca o

alimento sólido, a meditação o mastiga e tritura, a oração

consegue o sabor, a contemplação é a própria doçura que

regala e refaz. A leitura está na casca, a meditação na

substância, a oração na petição do desejo, a contemplação

no gozo da doçura obtida (Scala claustralium).


O Papa Bento XVI, na exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, escreveu: “à lectio divina, que é verdadeiramente capaz não só de desvendar ao fiel o tesouro da Palavra de Deus, mas também de criar o encontro com Cristo, Palavra divina viva” (BENTO XVI, 2010, p. 159). A lectio divina feita diariamente nos sustenta na fé e nos capacita como Igreja a assumir o discipulado e a missão.


Diante desses quatro passos, é importante compreender a mentalidade em que foi escrita a Bíblia que, não sendo um livro de história, não pode ser interpretada literalmente, “ao pé da letra”. É preciso sempre se perguntar pela mensagem que o autor quis transmitir ao escrever aqueles capítulos e versículos, pois cada texto revela a experiência de fé de uma comunidade orante e temente ao Senhor. Desse modo é preciso entrar em sintonia com o texto, ou seja, reconhecer-se dentro dele, identificando-se com algum dos personagens ou situações descritas pela narrativa.


Algumas perguntas poderão auxiliar nessa reflexão:


• Isto já aconteceu comigo?

• Isto serve para mim?

• Isto diz respeito à minha realidade ou de minha família ou

comunidade?

• Qual é o assunto ou a ideia principal do texto?

• Qual é o gênero literário?

• Qual é a mensagem de Deus nessa passagem da Bíblia?

• Qual é o contexto desse texto na Bíblia?

• Quais são os personagens que aparecem na passagem da leitura?

(O que fazem? Por quê? Com que objetivo? Como se relacionam?

O que sentem?)

• Qual é o ambiente do texto?

• Há palavras difíceis no texto? (Recorra a outras traduções da

Bíblia buscando sinônimos ou a um dicionário, se possível dicionário

bíblico.)

• Tente perceber as várias partes da leitura (cf. BUYST, 2001, p. 9).


Grande liturgista, a religiosa Ione Buyst sugere: “Vejam também a relação da leitura com a festa litúrgica e com as outras leituras. Perguntem: por que foi escolhida esta leitura? Qual é o sentido da leitura em seu contexto litúrgico? De que maneira essa leitura acontece para nós na celebração?” (BUYST, 2001, p. 9).


O elenco de leituras bíblicas proposto pela liturgia da Igreja foi publicado nos livros chamados lecionários, que se dividem em três volumes: Lecionário Dominical (que contém as leituras para os domingos e algumas solenidades e festas), Lecionário Ferial (com as leituras da semana) e o Lecionário Santoral (com os textos para as festas dos santos). O Lecionário Dominical está dividido em três ciclos litúrgicos de um ano. Sendo que, para cada um dos anos, é apresentado um elenco de leituras, tendo um dos evangelhos sinóticos como destaque: No ano A, é lido o Evangelho de Mateus; no ano

B, o de Marcos; e, no ano C, o de Lucas. O Evangelho de João, que contém uma linguagem e teologia mais espiritual, é reservado para as algumas solenidades e festas, e alguns domingos do ano B. Para os dias de semana, o lecionário está dividido em anos pares e ímpares (ciclo bienal), sendo o Evangelho comum a ambos os anos.


Nas celebrações dominicais, para saber qual ciclo deve ser lido, basta fazer um cálculo muito simples: somando os algarismos do ano. O ano em que a soma dos algarismos for um número múltiplo de 3 é do ciclo C.


Exemplo: 2022 (2+0+2+2) = 6


Seis é múltiplo de 3, portanto no ano de 2022 proclamamos as leituras do ano C, e consequentemente em 2023, do ciclo A.


Para ter acesso às leituras bíblicas que devem ser proclamadas a cada dia do Ano Litúrgico basta adquirir um subsídio chamado Diretório Litúrgico, publicado pela CNBB – esse volume traz as indicações e orientações litúrgicas para cada dia do ano. Ou simplesmente ter uma agenda bíblica ou fazer uma rápida consulta na internet, digitando no campo de pesquisa os termos “liturgia diária”. Diversos sites oferecem essa ferramenta, inclusive com textos e roteiros para realizar a lectio divina.


Ler, meditar e rezar diariamente os textos bíblicos propostos pela Igreja, sem dúvida, será uma grande fonte de encontro com o Senhor, que nos fortalecerá e ajudará a superar os desafios diários, tornando-nos cristãos ainda melhores, mais comprometidos com os valores evangélicos, conscientes de nossa missão de discípulos missionários.

 

Pe. Rodrigo Arnoso, CSSR

Pe. Thiago Faccini Paro


O Mistério Pascal é o que celebramos e atualizamos por meio da liturgia, e a Igreja como mãe nos oferece um caminho para tal atualização que chamamos de Ano Litúrgico. Nesse ano somos convidados a caminhar com o Cristo, a recordar fatos de sua vida, obra e missão. Desse modo, apresentamos neste livro, aos homens e mulheres de fé e àqueles que desejam conhecer o mais profundo da vida litúrgica da Igreja, alguns elementos que nos ajudarão a compreender o que é o Tempo para os cristãos, o que é o Ano Litúrgico e as formas de celebrar esse ano.


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