Se retrocedermos na história, perceberemos que ela está sempre permeada pela condição de guerra entre pessoas, nações e países. Em meio a esses conflitos, quase sempre encontramos disputas por poder e questões econômicas. Sobre essas disputas, é importante observarmos que a incompreensão das diferenças culturais (raça, religião, costumes) motivou muitas delas.
Milênios se passaram desde o desenvolvimento das civilizações e, apesar de uma aparente evolução, as guerras permanecem latentes em nossa sociedade. Quando desviada de sua finalidade última – a felicidade em Deus –, a humanidade apega-se a si mesma e sofre.
A palavra “paz” exprime vários significados, e todos eles precisam ser compreendidos. Paz significa espírito equilibrado e sereno (âmbito pessoal); ausência de perturbações e agitações (âmbito social); ausência de violência e de guerras (âmbito mundial). A paz precisa ser cultivada em cada indivíduo para o bem pessoal, que deve levá-lo ao bem comum. Por isso “ser” humano só é possível vivendo em grupo.
Por bem comum entendemos o conjunto das condições da vida social que permitem aos indivíduos e grupos atingirem a perfeição, através da vivência de direitos e deveres que dizem respeito a todo o gênero humano (cf. GS, n. 26). Entre esses direitos e deveres, podemos citar: o respeito à pessoa como indivíduo livre e consciente; o respeito ao grupo, proporcionando o que lhe é de igual direito – alimento, vestuário, saúde, trabalho, educação e cultura –; a paz, “uma ordem justa, duradoura e segura da sociedade e de seus membros” (cf. CIgC, n. 1905-1909).
É comum, entretanto, notarmos uma supervalorização do individual sobre o bem comum. A necessidade de consumir sem limites leva-nos ao individualismo e à descaracterização de nossos valores, como se concluíssemos: “Só sou se tenho; só tenho se compro; só compro se for melhor do que os outros”. Assim já temos a guerra. Na contramão desse isolamento de consumo, as pessoas querem cada vez mais vincular-se a grupos que defendem sua forma egocêntrica de pensamento, o que provoca o surgimento de grandes expressões de agressividade carregadas de insultos, difamação e xingamentos que desfiguram o outro. Os dispositivos móveis e o acesso irrestrito às mídias sociais criaram um espaço de agressividade (cf. FT, n. 44). Agora declaramos ódios virtuais e guerreamos com o simples toque de um dedo. E engana-se quem pensa que, ao menos assim, não temos morte nem destruição. Agora se mata a honra, o caráter, a alma das pessoas.
O Catecismo da Igreja Católica (n. 2304) lembra que “o respeito e o desenvolvimento da vida humana exigem a paz”, e que ela “não pode ser obtida na terra sem a salvaguarda dos bens e das pessoas, sem a livre comunicação entre os seres humanos, o respeito pela dignidade das pessoas e dos povos, a prática assídua da fraternidade”. Promover a paz é dever cristão, pois ela reflete na Terra a imagem do Cristo que em momento algum fomentou guerra.
Há guerras em toda parte, e é lamentável que por trás das mais violentas de hoje ainda encontremos os mesmos e velhos motivos. O Papa Francisco lembra que: “Toda a guerra deixa o mundo pior do que o encontrou. A guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal” (FT, n. 261). O mal está presente na origem de todas as guerras. Jesus nos convida a escolher a paz, porque é nela que mora o amor.
Reflexão bíblica do texto de 1Pedro 3,8-16: Fraternidade, harmonia dos corações, humildade, misericórdia, perdão, amabilidade ao se relacionar com as pessoas, fugir do mal para buscar a paz... De acordo com o que vimos na Carta de Pedro, essas atitudes são essenciais à prática dos ensinamentos de Jesus. Em sua carta, nos versículos de 10 a 12, Pedro cita o Salmo 34, mostrando que os salmos já haviam sido incorporados como oração e orientação para os primeiros cristãos, e que o conselho do passado é fundamental para a harmonia das novas comunidades. Para nós do século XXI, o texto torna-se um apelo urgente.
Diante das ameaças que sofrem os primeiros cristãos, Pedro os anima à prática do bem e do amor fraterno. Não é possível ser cristão sozinho e isolado. É preciso compromisso com a comunidade. Agir no impulso de defender a honra ferida com maldade e violência só pode desviar o cristão do bem. Daí o convite para imitar Cristo, que sofreu pela justiça e se manteve santo diante da tribulação. Cultivar a esperança é o que confunde os perseguidores do tempo de Pedro e os causadores das guerras de hoje. Diante do caos, é difícil explicar de onde vem tanta esperança, mas, se necessário fazê-lo, faça-o como o próprio Jesus faria.
Apesar de toda a liberdade que julgamos ter conquistado na atualidade, ainda há muitos conflitos gerados por questões religiosas; e ainda há muitos cristãos perseguidos por conta da fé em Jesus Cristo.
Para refletir:
1. Você é promotor da paz ou um semeador da discórdia?
2. A leitura orante, que é um momento de pacificação e intimidade com Deus, tem feito de você uma pessoa melhor?
3. Você tem guardado sua língua do mal e espalhado palavras gentis?
Sobre o livro:
O quinto livro da Coleção retorna com uma proposta clara: pensar a pessoa como um ser em relação. Por isso que os encontros apresentam as principais relações que estabelecemos em nossa vida, no intuito de não apenas educar na fé, como também de educar a mente e o comportamento dentro dos preceitos do Evangelho. Recordamos que somos convidados por Jesus para ajudá-lo a realizar a promoção da vida. Para isso, é preciso nos prepararmos para colocar em prática, no nosso dia a dia tudo que Jesus nos ensinou. Aqui encontramos um quinto bloco com propostas de encontros e celebrações sobre os Sacramentos da Iniciação Cristã, compreendidos como um convite para permanecer em Cristo e com Ele e por Ele viver. A reflexão sobre o Batismo e Eucaristia, está centrada no fazer memória dos sacramentos já celebrados, e sobre a Confirmação voltamos nossa atenção para a preparação do sacramento que está por vir.
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